O São Paulo Fashion Week (SPFW N59) comemora seus 30 anos de história com desfiles realizados entre os dias 6 e 11 de abril. São 17 apresentações de marcas brasileiras divididas entre o Shopping JK Iguatemi e locações externas, como Hangar Studio e Blue Space.
Quem abre a semana de moda é Aluf, enquanto Piet encerra o evento com seu retorno ao line-up após seis anos. Entre as novidades, a 59ª edição conta com as estreias de Leandro Castro, que desfilava anteriormente na Casa de Criadores, e MNMAL.
Além disso, a programação inclui Alexandre Herchcovitch, Weider Silveiro, Walério Araújo, Dario Mittmann e outros nomes de destaque da moda nacional. O Hypnotique elenca os destaques das coleções abaixo!
ALUF
Ana Luisa Fernandes abre o SPFW N59 com coleção Malabares, que propõe uma releitura do universo circense vintage por meio de referências reinterpretadas em uma linguagem atual. A proposta conecta moda e circo, utilizando formas, cores e símbolos para criar paralelos entre o cotidiano e o espetáculo. Os looks representam a mulher contemporânea que lida com diferentes responsabilidades como quem executa um número de malabarismo.
As silhuetas destacam golas marcantes, enquanto cores dessaturadas evocam o clima invernal e nostálgico. Já os tecidos alternam entre leves, como o chiffon, e estruturados, como as bases acetinadas da alfaiataria. O trabalho manual aparece em peças de organza com aplicações em tiras do mesmo tecido, criando volume e textura, inclusive nos acessórios de cabeça.
Uma clara referência ao circo está nas bolsas: elas seguem linhas inspiradas na geometria do picadeiro! Além disso, vemos outros detalhes que remetem ao figurino circense, como listras, pompons, veludo e maquiagem meio “boneca”, meio “melindrosa”. No geral, coleção da ALUF equilibra o imaginário lúdico com elementos utililários de maneira a reafirmar a identidade da marca em mais uma temporada.
HERCHCOVITCH; ALEXANDRE
No desfile de Alexandre Herchcovitch, o público ficou de pé ao redor de uma passarela alta, assistindo de perto a um verdadeiro show de luz e cor. Sob a luz negra, os looks ganhavam vida com brilhos em neon — verde, roxo, laranja — aplicados nas roupas, acessórios e até nas meias. Ao saírem dessa iluminação, revelavam outras camadas: vestidos curtos e longos, peças esportivas, ternos e casacos com estampas como o xadrez, marca registrada do estilista.
Sem seguir um tema específico, a apresentação foi dividida por blocos. Primeiro, peças inspiradas em camisas de rúgbi, com proporções exageradas e mangas volumosas. Depois, vestidos de veludo cotelê com recortes de tecidos vintage e, na sequência, ternos anos 1970, listras sessentistas e vestidos com clima do século 18.
Os cristais Swarovski brilhavam sob a luz ultravioleta. E o neon seguiu firme do início ao fim, até chegar às peças de látex que encerram a apresentação. Mais uma vez, Herchcovitch mostrou sua habilidade em explorar novas maneiras de mostrar o corpo, sem necessariamente deixar a pele à mostra.
NORMANDO
Normando voltou ao SPFW com a coleção Chove nos Campos de Cachoeira, inspirada no romance de Dalcídio Jurandir. A obra, escrita nos anos 1920 e publicada em 1941, guiou os três atos do desfile, que traduziu em moda a tensão entre melancolia e resistência.
Com direção de Marco Normando e Emídio Contente, a apresentação seguiu o DNA da marca: peças sustentáveis com forte identidade regional. Látex amazônico, algodão pima, fibra de buriti e juta-malva apareceram em roupas que combinavam alfaiataria urbana com toques artesanais. A camisaria se manteve presente, agora ao lado de vestidos e casacos que mesclavam leveza e rigidez.
Estampas de queimadas e tecidos que lembravam papéis de parede antigos reforçaram a crítica ambiental. A dualidade entre força e fragilidade conduziu os 30 looks da coleção. Na passarela, nomes como Dira Paes, Thai de Melo e Carol Ribeiro ajudaram a dar corpo a esse imaginário da Amazônia reinterpretado.
LEANDRO CASTRO
Leandro Castro fez sua estreia no SPFW com a coleção Linha, inspirada no texto “Ponto e Linha sobre Plano”, de Kandinsky. A passarela virou espaço para refletir sobre conexões e caminhos, com peças que transformam os conceitos geométricos do artista russo em formas vestíveis — amplas, expressivas e em constante movimento.
A coleção aposta em moda agênera e tamanhos inclusivos, com destaque para a alfaiataria oversized em feltros estruturados e tecidos leves como organza. As peças trazem volumes generosos, texturas marcadas e um mix de técnicas artesanais: pregueados, crochês quase desfeitos, camisas de mangas gigantes e risca-de-giz convivem em harmonia.
Quase tudo foi feito com sobras têxteis, incluindo de roupas de luta a tecidos automobilísticos. As sapatilhas, feitas com meias e sola laranja, e os batons pretos borrados no rosto deram o tom dramático. No centro da proposta, moda e arte se encontram em peças que funcionam como esculturas do cotidiano.
DARIO MITTMANN
Dario Mittmann levou ao SPFW N59 a coleção GOLEM: uma odisseia transhumanista, em que moda, tecnologia e filosofia se entrelaçam. Inspirado na figura mitológica do Golem, o estilista propôs uma reflexão sobre inteligências artificiais e a relação entre ciência, arte e consciência. Dessa forma, a coleção traz 27 looks que exploram a tensão entre o natural e o artificial.
Técnicas manuais, como crochê e grafite, dividem espaço com impressão 3D, acessórios futuristas e tecidos que imitam pele. O denim aparece como protagonista, com variações de lavagens e texturas. A mistura entre o bruto e o sensível marca a estética da coleção, que aposta em contrastes — do artesanal ao digital, do orgânico ao sintético.
Um dos momentos mais impactantes foi o look usado por Deborah Secco, uma armadura robótica com um dispositivo que libera lágrimas negras. Com tudo isso, Dario reafirma sua identidade visual ousada e experimental, ao mesmo tempo em que propõe um olhar crítico sobre o futuro da moda (e da humanidade!).
WEIDER SILVEIRO
Na SPFW N59, Weider Silveiro apresentou uma coleção que mergulha nas múltiplas expressões da feminilidade. Sem seguir temas fechados, Weider propõe um estudo sobre feminilidade, articulando signos, expressões e representações das mulheres em peças que reafirmam sua linguagem autoral.
De referências clássicas, como as figuras das Vênus, até a energia de divas pop como Cher, Madonna e Joelma, o estilista constrói um retrato de força e atitude por meio da silhueta. A cartela de cores, monocromática, vai do verde menta ao berinjela, com toques de vermelho e rosa claro.
Cinturas marcadas, ênfase nos quadris e busto e o uso habilidoso das malhas — material que já é assinatura do designer — dão forma a diferentes corpos e visões de mulher. Então, o denim entra como complemento, reforçando o equilíbrio entre sensualidade e urbanidade.
REPTILLIA
No segundo desfile da Reptilia na SPFW, a coleção Tectônica mergulhou nas camadas profundas da Terra para refletir sobre transformação e adaptação. A diretora criativa Heloisa Strobel buscou inspiração nas placas tectônicas e suas movimentações para desenvolver peças que se movem e de adaptam – assim como a própria superfície terrestre!
A alfaiataria aparece como ponto de força, com recortes que lembram fissuras e sobreposições que simulam deslocamentos geológicos. Casacos, pelerines e peças estruturadas ganham formas orgânicas e articuladas, permitindo diferentes formas de uso. As silhuetas são estruturadas, também fazendo referência à geologia.
A marca, que sempre se posicionou como agênero, expande seu olhar para o masculino nesta temporada. Cerca de 20% da coleção é dedicada aos homens, porém fugindo do óbvio ao serem pensadas por uma mulher. As criações mantêm a identidade da Reptilia: formas que rompem padrões e repensam o que se entende por gênero, estrutura e superfície.
MNMAL
Em sua estreia na SPFW, a marca do estilista Flávio Gamaum apresentou uma coleção ousada, que mescla de forma inovadora o espírito irreverente do streetwear com uma estética casual sofisticada. Inspirada pelas ruas urbanas e pela cultura contemporânea, a coleção se destaca pela utilização de uma paleta de tons neutros que serve de base para a criação de visuais versáteis e atemporais.
Os looks foram cuidadosamente elaborados com silhuetas oversized, oferecendo uma sensação de liberdade e descontração, enquanto as diversas sobreposições – como a combinação inusitada de camisetas sobre moletons – proporcionaram um jogo de texturas e volumes que chamou a atenção dos críticos e do público. Essa abordagem criativa não só reforça a identidade moderna da marca, mas também estabelece um diálogo interessante entre conforto e estilo.
Em contrapartida, para criar um contraponto marcante, a coleção também incorporou peças de caráter mais formal, confeccionadas com tecidos xadrez. Essas peças introduziram um toque de elegância e estrutura, enriquecendo os looks predominantemente lisos e acrescentando profundidade ao conjunto visual. A fusão dos elementos informais do streetwear com os toques refinados dos tecidos clássicos demonstra a versatilidade da coleção e a habilidade do estilista em transitar entre diferentes universos de moda.
Walério Araújo
Um dos pioneiros do São Paulo Fashion Week, Walerio Araújo apresentou em sua última edição uma coleção verdadeiramente extravagante intitulada “AVESSO”. Em um espetáculo visual que reafirma sua posição ímpar na cena da moda brasileira, o estilista não economizou na ousadia e originalidade, criando um desfile que ficou marcado pelo audacioso questionamento sobre identidade e os estigmas impostos pela sociedade.
Fiel à sua marca registrada, a coleção “AVESSO” vai além do estético: ela é uma declaração de liberdade e resistência, rompendo com as convenções tradicionais e desafiando os padrões pré-estabelecidos. Cada peça foi pensada para provocar uma reflexão sobre como os indivíduos são rotulados e limitados por normas sociais, ao mesmo tempo em que celebra a diversidade e a liberdade de expressão. O trabalho de Walerio Araújo evidencia, de forma contundente, a importância de se repensar conceitos e quebrar barreiras, transformando a passarela em um espaço de diálogo e contestação.
Os looks deslumbraram a passarela com uma combinação vibrante de elementos ousados e contrastantes. Transparências que revelam detalhes sofisticados, ternos invertidos que brincam com a simetria e a estrutura tradicional do vestuário formal, estampas de oncinha que evocam a selvageria e o poder da natureza, decotes provocantes que desafiam o convencional, e uma dose generosa de brilho que adiciona glamour e intensidade a cada produção. Esses componentes, meticulosamente trabalhados, se convergem para criar um universo visual que é, ao mesmo tempo, revolucionário e fiel à identidade única de Walerio.
Patricia vieira
A estilista Patrícia Vieira apresentou sua nova coleção mantendo a sofisticação que é sua marca registrada, especialmente direcionada à mulher moderna e confiante. A proposta da coleção destaca uma estética festiva, que combina elementos ousados e refinados, resultando em peças que traduzem a força e a elegância da contemporaneidade.
No centro das criações, o couro, um dos materiais mais icônicos da grife, assume um papel de protagonista. Jaquetas ricamente bordadas e com detalhes cuidadosamente elaborados se mesclam a vestidos inovadores, onde a sobreposição de mosaicos de tecidos e toques metalizados cria uma harmonia entre o clássico e o futurismo. Esses elementos, quando combinados a modelos de cortes mais lisos e elegantes, evidenciam a dualidade da coleção: por um lado, há a ousadia e o brilho festivo; por outro, o requinte atemporal que acompanha a mulher que busca expressar sua individualidade sem abrir mão do conforto e da elegância.
Além do uso expressivo do couro, a coleção apresenta uma paleta de cores sofisticada e versátil, com tons que variam do neutro ao metálico, possibilitando composições que se adaptam tanto a eventos festivos quanto a ocasiões mais formais. Cada peça parece ter sido pensada para dialogar com as exigências do cotidiano moderno, ao mesmo tempo em que se destaca pela criatividade e inovação nos detalhes, como aplicações, bordados e texturas diferenciadas.
Piet
A Piet, marca brasileira de streetwear conhecida por sua inovação no cenário da moda nacional, protagonizou um dos desfiles mais marcantes desta edição do São Paulo Fashion Week.Realizado no icônico Estádio do Pacaembu, o evento foi aberto ao público, reunindo cerca de 4.000 pessoas, sendo 1.800 convites distribuídos gratuitamente pela própria marca.
O retorno da Piet ao SPFW foi um verdadeiro espetáculo, contando com show ao vivo de Marcelo D2 e participações especiais nas passarelas, como os trappers MC Cabelinho e Tz da Coronel.
A nova coleção apresentou um mix potente das maiores colaborações da marca, incluindo nomes como Heineken, Swarovski, KidSuper, Oakley e Puma, com forte inspiração esportiva, os looks resgataram o universo do futebol e a estética das ruas brasileiras, traduzindo perfeitamente a proposta da Piet: moda com identidade, atitude e conexão com a cultura nacional.
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