A terceira edição do programa Next Cultural Producer, idealizado pela Chanel em parceria com o museu Power Station of Art (PSA), deu destaque a uma performance artística de longa duração na capital cultural da China. A proposta vencedora de 2025, intitulada Noon, Wildness, Stream, Washe, Ruins, Theatre, foi criada pelo coletivo Martin Goya Business, com sede em Hangzhou, e reuniu mais de 150 artistas em uma ação performática que durou oito horas.
O evento aconteceu no dia 11 de julho, marcando a abertura da exposição, e propôs uma imersão sensorial que desafiou os limites tradicionais da arte em museus. A performance foi descrita pelos idealizadores como uma “ação coletiva contínua”, culminando em um miniconcerto à meia-noite da banda de rock experimental Mola Oddity, liderada pela ex-estrela pop taiwanesa Amber Kuo.

Tradição e ruptura: um espaço reinventado dentro do museu
A exposição foi dividida em diferentes seções que entrelaçam elementos da arquitetura tradicional chinesa como estruturas inspiradas em teatros da dinastia Song e janelas de papel recortado, com imagens em movimento, poesia, documentos compartilhados pela comunidade artística e pinturas com estética de grafite. Juntos, esses elementos subvertem a lógica do cubo branco do museu e constroem uma narrativa que desrespeita o tempo cronológico.
Na noite de abertura, o público foi surpreendido por uma atmosfera de experimentação constante, que incluiu estudantes, DJs, dançarinos e artistas consagrados. A proposta era desconstruir a ideia de espetáculo único, substituindo-a por uma criação coletiva em fluxo permanente.
Um manifesto pela liberdade criativa e pelo tempo expandido
Segundo Cheng Ran, cofundador do Martin Goya Business, a proposta de duração estendida busca “transcender o tempo e explorar diferentes modos de percepção, como víamos as coisas na antiguidade e como as vemos agora”. Para ele, o objetivo da performance era provocar pequenas transformações no público, afastando-o do conforto da familiaridade e conduzindo-o a experiências mais contemplativas.
Cheng ainda destacou que instituições culturais devem assumir o papel de testemunhas e catalisadoras de carreiras emergentes, e não apenas funcionar como selos de aprovação. Esse pensamento orienta a atuação do coletivo desde sua fundação, há oito anos.
O coletivo Martin Goya Business: arte, comunidade e resistência
O grupo é formado por quatro artistas: Cheng Ran, o escritor de fantasia marcial Da Mian, o curador musical e visual Taoph, e a escritora Tan Sin Thiau. O nome foi inspirado em um dos 24 gatos adotados pelos membros. Desde o início, o coletivo se posiciona à margem do sistema institucional de arte, promovendo mais de 100 eventos e colaborando com cerca de 400 criadores de múltiplas disciplinas, em exposições realizadas em mais de 20 países.
Entre as iniciativas recentes está um restaurante comunitário que funciona como bar artístico durante a noite, oferecendo um espaço de convivência e sustentabilidade para a comunidade criativa de Hangzhou.
Mudanças urbanas inspiram novas linguagens artísticas
Com o avanço da urbanização em Hangzhou, o grupo precisou mudar de sede quatro vezes até encontrar um novo estúdio nos arredores de Xangai. Essa experiência motivou a criação de uma instalação com andaimes de dois andares, onde 12 artistas se revezaram pintando ao vivo, cada um sobrepondo sua obra à do anterior.
Segundo Da Mian, o processo representa um momento comum aos artistas: os vestígios que ficam ao deixar um ateliê. “Muitos de nós enfrentam esse dilema: onde montar um estúdio e por quanto tempo conseguir mantê-lo?”, relatou. “Essa movimentação constante gera a necessidade de reivindicar o espaço, mesmo que apenas por um instante.”
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O futuro da mostra e os planos da Chanel com o PSA
Durante os próximos três meses, 1.500 gigabytes de filmagens da noite de estreia, captadas por 10 câmeras, serão editados e incorporados à exposição. Segundo os artistas, o vídeo seguirá uma estrutura aberta, refletindo o processo coletivo e sua natureza mutável.
A mostra gratuita permanece aberta ao público até 8 de outubro. O programa Next Cultural Producer, criado em 2021 pela Chanel e o PSA, marca a primeira colaboração da marca com um museu na Ásia. Após explorar o artesanato e a arquitetura do sul da China nas duas primeiras temporadas, o foco agora está na performance como ferramenta de provocação e transformação social.
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