A marca italiana transforma críticas em colaboração ao produzir uma linha limitada inspirada no artesanato indiano tradicional.

As sandálias feitas na Índia se tornam protagonistas de uma das movimentações mais comentadas do luxo internacional. Após críticas de apropriação cultural, a Prada anunciou uma coleção produzida diretamente nos centros artesanais de Maharashtra e Karnataka, marcando uma mudança de postura e reposicionando o diálogo entre moda global e técnicas tradicionais.
A coleção limitada, prevista para fevereiro de 2026, propõe uma síntese entre o know-how italiano e a herança dos Kolhapuri chappals, calçados históricos do país. É uma resposta estratégica da marca para transformar um episódio de backlash em um projeto de colaboração estruturado com artesãos locais.
O movimento reforça a importância de iniciativas que valorizam procedência, técnica manual e impacto social dentro do mercado de luxo contemporâneo.

Por que a Prada decidiu produzir sandálias feitas na Índia
A decisão de desenvolver sandálias feitas na Índia surgiu seis meses após a apresentação de um modelo semelhante a calçados do século XII durante um desfile em Milão. As imagens da peça viralizaram e geraram críticas de artesãos e representantes políticos, que apontaram ausência de reconhecimento cultural e preocupações com apropriação indevida.
Diante do debate, a marca reconheceu que seu design tinha referências diretas aos tradicionais chappals e iniciou conversas com entidades indianas para construir um caminho mais transparente e colaborativo. Nasceu daí a proposta de produzir 2.000 pares com técnicas locais, integrando tecnologia italiana ao processo artesanal indiano.
A iniciativa se posiciona como um gesto de reparação, mas também de inovação. Ao valorizar o trabalho manual de comunidades marginalizadas, a Prada cria um precedente para novas relações entre moda de luxo e práticas tradicionais.

A colaboração entre Prada e artesãos indianos
A coleção será desenvolvida em parceria com dois órgãos apoiados pelo governo: LIDCOM e LIDKAR, instituições que preservam o legado do couro e treinam artesãos nas regiões envolvidas. O acordo prevê também um programa de capacitação de três anos, com treinamentos na Índia e períodos de estudo na academia da Prada, na Itália.
O projeto une duas expertises: a habilidade histórica dos artesãos de Maharashtra e Karnataka, que produzem chappals há séculos, e a precisão técnica da manufatura italiana. A meta é garantir que cada par reflita a identidade de ambos os universos.
Segundo Lorenzo Bertelli, executivo responsável por marketing e sustentabilidade da Prada, a remuneração justa e a formação continuada estão no centro da parceria. A marca estima investir vários milhões de euros no processo.
Nota da redação
Os Kolhapuri chappals são considerados Patrimônio Cultural Imaterial em algumas regiões da Índia por sua relevância histórica e por manterem técnicas manuais que atravessam gerações.
O impacto cultural e econômico da coleção
A expectativa é que a colaboração ajude a revitalizar um setor ameaçado por imitações baratas e pela queda na demanda. Comunidades artesãs veem a parceria como uma oportunidade para atrair novas gerações, ampliar renda e preservar ofícios que correm risco de desaparecer.
Para o mercado global, a estratégia revela como marcas de luxo podem reestruturar suas narrativas, deslocando o foco da estética para os processos. As sandálias feitas na Índia ganham protagonismo como símbolo de um novo modelo de colaboração, em que reconhecimento cultural e rastreabilidade se tornam elementos centrais.
O movimento também reforça tendências mais amplas: consumidores exigem autenticidade, impacto social e diálogo transparente com tradições culturais. A Prada responde alinhando sua próxima coleção a esses valores.

O futuro da Prada no mercado indiano
Apesar da colaboração, a marca não pretende abrir lojas de moda no curto prazo. A Prada iniciou operações no segmento de beleza em Delhi, mas afirma que a expansão física deve ocorrer apenas em alguns anos e sem parcerias locais, ao contrário do que é comum entre grandes conglomerados globais.
Ainda assim, a Índia é vista como um mercado estratégico. Com crescimento acelerado e projeções de alcançar US$ 30 bilhões em lucro até 2030, o país se posiciona como fronteira de expansão para marcas premium. A Prada pretende entrar de forma independente, reforçando sua visão de longo prazo.
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Como as sandálias feitas na Índia podem influenciar o luxo global
A coleção marca mais do que uma resposta a críticas. Representa uma mudança no relacionamento entre marcas internacionais e comunidades tradicionais. Sandálias feitas na Índia, quando assinadas pela Prada, expandem o debate sobre autoria, respeito cultural e inovação colaborativa.
É um passo que pode inspirar outras casas de moda a repensar cadeias produtivas, valorizar artesãos e criar produtos com impacto social mensurável. Para quem acompanha tendências de consumo e cultura, esta colaboração oferece pistas sobre o futuro da moda em um cenário cada vez mais atento à responsabilidade cultural.
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