Os desfiles que mais chamaram atenção até agora foram: Dior, Undercover, Alaïa, Dries Van Noten, Stella McCartney, Balmain, Tom Ford, Chloé, Rick Owens, Isabel Marant, Kenzo, Giambattista Valli, Victoria Beckham, Yohji Yamamoto, Junya Watanabe, Hermés, Elie Saab, Comme des Garçons, Alexander McQueen, Valentino, Balenciaga, Coperni, Louis Vuitton, Chanel e Miu Miu. Confira análises!
A mais importante entre as semanas de moda, a Paris Fashion Week é realizada entre os dias 3 e 11 de março. Serão nove dias de agenda lotada e muita moda. Vale lembrar que o evento ocorre após os desfiles de Nova York, Londres e Milão, encerrando a temporada de Fall/Winter 2025.
Será uma semana com muitas novidades. Entre elas, a esperada coleção de estreia de Sarah Burton na Givenchy. Para quem não sabe, a designer esteve à frente de Alexander McQueen durante 26 anos, sendo metade deles como diretora criativa.
Além disso, Haider Ackermann chega à Tom Ford com aprovação do fundador próprio da casa homônima. Outra novidade é Julian Klausner apresentando seu desfile de estreia para Dries Van Noten.
Pelo contrário, teremos que esperar um pouco mais para a chegada de Matthieu Blazy à Chanel. Sua primeira coleção será apresentada apenas em setembro. Enquanto isso, os looks de Outono/Inverno ficaram nas mãos da equipe de design da casa.
Tem mais mudanças: Alaïa deixa a programação da Alta-Costura para se juntar ao prêt-a-porter; Alessandro Michele apresenta sua segunda coleção para a Valentino; e Loewe dá uma pausa nos desfiles enquanto circulam rumores sobre a sucessão de Jonathan Anderson.
Dessa vez, a Louis Vuitton não mais encerrará o evento ao lado de Chanel e Miu Miu. Ao invés disso, Saint Laurent será uma das marcas que participará do último dia de desfiles, enquanto LV desfila no penúltimo. Vamos então aos destaques da Paris Fashion Week!
VAQUERA
Abrindo a Paris Fashion Week, Bryn Taubensee e Patric Dicaprio trouxeram um inverno acinzentado, menos conceitual e com linha narrativa consistente. Os looks tem forte viés oitentista, com ombros retos, balonês, comprimentos oversized, mangas bufantes, laços e botas brancas.
O exagero faz parte da coleção de Outono/Inverno 2025, vemos: maxisoutiens, colares de pérolas gigantescos, cintos com fivelas imensas e cardigans com mangas que quase arrastam no chão.
Em contraponto aos excessos, os designers criam looks mais justos para equilibrar a silhueta. O efeito estonado dos tricôs e casacos de couro é moderno, assim como as estampas com referências cartunescas e urbanas. No geral, é uma Vaquera madura, menos inventiva, porém não menos criativa.
DIOR
O clima no desfile da Dior foi de despedida de Maria Grazia, ainda que a substituição da diretora criativa não tenha sido oficializada. O que vimos na Paris Fashion Week foi uma passarela dramática, cheia de efeitos especiais e com várias trocas de cenário criadas por Robert Wilson. A coleção de Outono/Inverno 2025 foi inspirada em Orlando, personagem de Virgínia Wolf.
Todos os looks trazem um aspecto medieval, com camisas com golas de babados, casacas e casaquetos adamascados, mangas bufantes, transparências delicadas, coletes e bermudas retas. As cores são bem sucintas, com preto, branco, palha e apenas um look vermelho.
A suavidade das rendas bordadas com desenhos sutis amarra a narrativa da coleção. Adicionando ao clima histórico, Maria Grazia entrega o que sabe fazer de melhor: estampas desgastadas, couros trabalhados como renda, vestidos transparentes femininos e sensuais.
T-shirts com a frase “J’Adore Dior” aparecem várias vezes compondo os looks. Seria essa uma visita aos arquivos, uma homenagem ou uma mensagem subliminar do que está por vir? De todas as formas, dá para dizer que foi uma das melhores coleções de Grazia.
GANNI
Ditte Reffstrup apresenta seu desfile off-Paris Fashion Week. Vemos uma coleção complexa, para não dizer caótica. São mil coisas acontecendo ao mesmo tempo, porém é bom ver uma estilista exercendo seu poder criativo sem medo em tempos de minimalismo e Corpcore.
Com paleta neutra, Ditte se joga nas estampas florais escuras e nas modelagens folgadas e confortáveis. Ela também trabalha drapeados e efeitos repuxados em quase todos os looks, incluindo calças largas, vestidos e saias midi.
Os trabalhos com fios coloridos em jeans e vestidos conversam com o charme campestre da coleção. As sobreposições do desfile cruzam estampas e padronagens, como o xadrez com floral. Os tricôs com flores em relevo são lindos e possuem uma delicadeza que foge do óbvio.
UNDERCOVER
Jun Takahashi entrega uma coleção colorida, despojada e com leitura aparentemente simplificada. O desfile começa com uma vibe mais barroca, induzindo o público a pensar que será mais uma das apresentações conceituais do estilista. No entanto, o que se seguiu foram looks sóbrios, com tons alegres e aparência de dia a dia.
Cardigans simpáticos, jeans básicos e moletons com bordados saindo de rasgos são destaques. Uma estampa de borboletas toma conta da passarela, além de debruns que contornam delicadamente casacos e blazers.
Os tecidos com aspecto usado acompanham o mood confortável da coleção. Já as jaquetas puffer são curtinhas e tem pespontos diferenciados. Enquanto isso, as peças em ráfia emprestam um pouco de brilho ao desfile. Próximo ao final, alfaiatarias com penas e vestidos de silhueta acolchoada mostram a sensibilidade, o trabalho grandioso e a visão particular de Takahashi.
ALAÏA
Pieter Mullier entrega um trabalho consistente desde sua entrada na Alaïa, com linhas limpas e futurismo minimalista. Para a coleção de Outono/Inverno 2025, a paleta tem cores boas e as formas são equilibradas – com tops justos combinados com saias amplas, ou vice-versa.
O foco do diretor criativo são os quadris e os ombros, ressaltados com saliências acolchoadas. Os looks são femininos, com muitas saias longas ou em comprimento midi, texturas complexas, plissados recortados e pregas com efeitos. Enquanto isso, os vestidos sustentados por armações de arame oferecem ares mais orgânicos à coleção.
Apostar em texturas e trabalhos mais elaborados a partir de modelagens menos complicadas mostra clareza e sofisticação. Isso resulta em um grande acerto dentro do trabalho de Pieter à frente da maison.
DRIES VAN NOTEN
Julian Klausner não fez feio em sua estreia à frente da Dries Van Noten. Pelo contrário, o novo designer, que trabalhou ao lado do próprio Dries desde 2018, demonstra estar confortável e saber o que está fazendo – tanto que quase não se notam diferenças em relação às criações originais da marca.
O diretor criativo apresenta uma mulher elegante, despojada e com referências à cultura oriental. As cores são mais terrosas, com destaque para os tons de cerâmica. Nesse contexto, a alfaiataria de Klausner é mais folgada, ao mesmo tempo que densa. As peças trazem lapelas levantadas e aparência imponente.
Quebrando a rigidez, os blazers e sobretudos ganham aspecto artesanal com enfeites e cadarços costurados. Os vestidos e saias também ajudam a desenhar formas através de seus efeitos torcidos e drapeados. Enfim, o mix de estampas e texturas (assinatura forte de Dries) se faz presente em xadrezes, padronagens orientais acetinadas, além de bordados carregados.
Ter alguém de confiança de Dries, que entende o espírito e consegue interpretar os códigos da marca, sem prejudicar o lado comercial, é uma lição que a DVN deixa para o mercado de luxo – especialmente em tempos de uma frenética dança das cadeiras! Foi um desfile correto, bonito e cheio de vida. Uma ótima estreia!
CECILIE BAHSEN
Cecilie Bahsen subverteu a lógica das estações ao trazer ares primaveris à sua coleção de Outono/Inverno 2025, chamada “Untitled Flowers”. O nome faz referência a um desenho criado pelo artista dinamarques Tal R em 2020. Na prática, os looks desfilados na Paris Fashion Week são femininos, porém ásperos e sombrios ao mesmo tempo – ao que a estilista define como “uma rebelião silenciosa”.
A coleção pode ser definida majoritariamente como um estudo de opostos: saias e vestidos leves, cheios de movimento, são combinados com coletes amarrados com cadarços e cintos, que remetem aos espartilhos. A amarração do tronco contribui para silhuetas mais longas, com cintura mais baixa.
Outra característica a ser destacada é a junção de peças delicadas com elementos esportivos. Mais uma vez Bahsen reúne peças da colaboração com a Asics, além de algumas outras desenvolvidas com a The North Face. Um desfile que celebra a feminilidade fora do óbvio.
STELLA MCCARTNEY
Apresentando sempre uma das melhores alfaiatarias da Paris Fashion Week, Stella McCartney trouxe uma coleção que respirava anos 1980. Seus looks para o Outono/Inverno 2025 transmitem uma mulher sensual, segura, poderosa e com ombros opulentos.
Os tecidos foram as grandes estrelas do desfile, entre eles: looks em vinil, casacos de pele fake, couro vegano ecológico (feitos de fungo e poliéster), estampas de cobra e ombré. Todos eles se misturam de maneira refinada entre os universos feminino e masculino – os quais Stella lê sem fazer caricaturas.
A estilista amarra a narrativa oitentista com blazers longos e casacos. Dessa forma, traz uma visão sofisticada do Corpcore. Na paleta, duas extremidades: cores escuras de um lado, como vinho e verde-oliva, e amarelo-manteiga, rosa bebê e verde-água do outro.
Em um mundo de marcas que desconsideram ou não acham viáveis os métodos sustentáveis, Stella McCartney se mantém firme na busca de alternativas para preservação dos recursos naturais.
ACNE STUDIOS
Sempre com desfiles lúdicos e conceituais, Jonny Johansson se inspira na música “Human Behavior” da Bjork para sua coleção de Outono/Inverno 2025. Todos os looks parecem muito pessoais e cheios de alusões ao próprio Johansson, vindo de uma pequena cidade da Suécia.
Uma referência que aparece em quase todo o desfile são os ursos. Eles estão nas peças em mohair, que dá origem a roupas “peludas”. As estampas também ilustram o animal, assim como os acessórios felpudos.
A pesquisa de modelagem traz ombros alongados e mangas bufantes, que lembram ursos de pelúcia nas alfaiatarias e nos suéteres. Enquanto isso, os looks feitos em couro fervido ou malha de lã formam um efeito amarrotado – que é inusitado, mas transmite uma forte mensagem sobre a coleção.
BALMAIN
Balmain foi outra marca que trouxe de volta os anos 1980 para o Outono/Inverno 2025. Olivier Rousteig entrega uma coleção polida, menos cheia de bordados e penduricalhos. Os looks são confortáveis, despojados e sofisticados como só a Balmain consegue ser.
O designer não traz muitas estruturas, deixando os volumes concentrados na parte de cima. Ele equilibra os looks com leggings justas e botas folgadas – deixando a silhueta o mais uniforme possível. Os casacos são mais soltos, com capuzes, golas altas e, em muitos casos, ajustados com faixas ou cintos. Por suas vezes as peças mais justas carregam drapeados ou bordados.
A estampa de zebra completa a energia oitentista do desfile, enquanto os looks em couro texturizados trazem modernidade. A paleta de cores é cinza, com laranjas e vermelhos incorporados ao clássico P&B. No geral, a coleção tem viés minimalista, mas mantém uma linha narrativa. Dá para dizer que é satisfatório ver a Balmain sem efeitos ou grandes truques, com uma moda boa e pura, da melhor qualidade.
TOM FORD
A estreia de Haider Ackermann à frente da Tom Ford é marcada pelos cortes clássicos, modelagens básicas, porém cores surpreendentes. Tudo é bem contido, desde os blazers e calças de alfaiataria até as silhuetas um pouco mais soltas.
O início com os looks em couro texturizado e cores P&B é sofisticado, porém sem elementos que surpreendam. Os tops mais curtos com saias e calças amplas sugerem sensualidade, mas a composição parece destoar da narrativa de Tom Ford.
Então, quando o desfile começa a ganhar cores, os looks parecem ficar mais interessantes. Dá para ver o olhar de Ackermann cruzando com as referências de Ford. Um bom exemplo são os vestidos longos e retos, com fendas ou assimétricos, acetinados ou texturizados – esse é o tipo de que funciona justamente por não ter a pretensão de ser incrível!
A conclusão é que os looks coloridos foram o que salvou a coleção, ao levantar a vibe “cool minimalista” de Ackermann. A julgar pela tímida estreia do estilista, o que podemos dizer é que ele precisará entender um pouco mais do universo de Tom Ford para se destacar na próxima temporada.
CHLOÉ
Chemena Kamali mostrou que os anos 1970 não são mais sua única fonte de inspiração para os looks da Chloé. Apesar de manter algumas referências do boho chic, a proposta da coleção de Outono/Inverno 2025 é uma mistura entre nostalgia e modernidade. A diretora criativa destaca a complexidade da mulher Chloé, com um guarda-roupas versátil que transita do romântico ao prático.
Os códigos tradicionais da marca estavam presentes nos vestidos fluidos, adornados com rendas, bordados e babados. Por outro lado, o desfile também incorporou elementos noturnos e sofisticados. Entre eles, vestidos retos, minissaias estruturadas, trench coats de couro e boleros.
Vale mencionar também o destaque para os ombros nas camisas e nas peças de couro – um possível aceno à década de 1980. Referências às silhuetas das eras vitoriana e elisabetana também aparecem no desfile, em especial em uma jaqueta de couro curvilínea. Enfim, as cinturas também estão mais baixas e os caimentos retos.
OFF-WHITE
O diretor criativo Ibrahim Kamara segue bem sucedido em sua escalada de reafirmação de seu estilo dentro da Off-White. Dessa vez, ele buscou inspiração nos stormtroopers de Star Wars – rendendo um Outono/Inverno futurista, com peças cheias de recortes que remetem à estética sci-fi.
Kamara constrói um activewear cruzado com sportwear, às vezes com viés ético moderno que redesenha o corpo. Os vestidos justos possuem estampas abstratas ou desenhos que acompanham os recortes das peças. Os jeans têm lavagens e jateados interessantes, enquanto outros entregam aplicações de bolsos de vinis e rasgos preenchidos com outros tecidos.
Em uma linha quase oposta, a moda masculina de Kamara cruza referências do steetstyle com sportwear cheios de contraste, zíperes, bolsos e ribanas listradas. A abordagem leve da estilista, sem forçar a barra, é um grande acerto no estilo da marca.
RABANNE
A proposta de Julien Dossena para o Outono/Inverno 2025 da Rabanne foi questionar estruturas tradicionais. Para isso, o diretor criativo apostou na explosão de materiais: lã, caxemira e peles aparecem combinados com lantejoulas, plástico e couro. As diferentes texturas se fundem na mesma peça de maneira inesperada e, muitas vezes, contrastante.
Os looks revolucionam a estação ao trazerem características funcionais, aliadas a toques de glamour. Alguns exemplos são os casacos de lã grossa forrados com lantejoulas prateadas; vestidos fluidos cobertos com uma rígida estrutura de plástico; e casacos e saias com interior de paetês.
Por fim, algumas das peças não possuíam nenhum explosão acontecendo, como um terno masculino e um vestido, ambos com estampa de confete. Vale comentar também sobre o uso excessivo de pele em mais um desfile.
RICK OWENS
Ao som de Iggy Pop, Rick Owens entrega um desfile mais contido, longe do Carnaval apocalíptico que costumava trazer. Sentindo o abalo do mercado de luxo, o estilista lança um olhar mais introspectivo à coleção de Outono/Inverno 2025. Os looks são mais palpáveis, na intenção de também serem mais comercializados.
No entanto, isso não significa que vemos apenas peças simples e sem graça. A energia trevosa de Rick Owens abaixou, porém sua criatividade continua a mil. O resultado disso são desdobramentos mais interessantes da coleção masculina – com poucas estruturas, modelagens geométricas e referências ao punk industrial.
O máximo de minimalismo que encontramos no desfile são as jaquetas arredondadas com zíper e barras soltas. Por outro lado, muitas das peças possuem, pelo menos, um brilho discreto, textura delicada, franjas, drapeados e/ou recortes que juntam couro e tricô. O estranhamento de tempos atrás dá lugar ao desejo graças a um sábio reposicionamento de Owens.
SCHIAPARELLI
Daniel Roseberry demonstra cada vez mais maturidade à frente da Schiaparelli. Na Paris Fashion Week de Outono/Inverno 2025, ele atinge uma linha mais independente, sem tantas figuras de arquivo da marca – focando nos tecidos e texturas mais do que em modelagens mirabolantes.
As alfaiatarias vêm acinturadas como ampulhetas, com ombros duros e retos. Os casacos longos com forma evasê são cheios de classe. Já os vestidos de festa ora são mais básicos, ora mais elaborados graças ao lindo trabalho de tiras e franjas.
Os vários cintos atados à cintura chamam a atenção ao deixar os looks mais descolados (destaque para o top cinto que faz referência ao legado de Elsa Schiaparelli). Da mesma forma, as peles têm um toque diferenciado em relação às demais passarelas da semana.
Fica nítido de Roseberry tem procurado cada vez mais encontrar seu próprio caminho dentro da marca, sem que com isso precise apagar a identidade de Schiaparelli.
ISABEL MARANT
Kim Bekker traz uma moda leve, despreocupada e descolada para Isabel Marant durante a Paris Fashion Week. O desfile traz um basta bem humorado ao Corpcore e todas as discussões em torno das quedas do mercado de luxo. O clima está mais para uma tarde de passeio no shopping à la Patricinhas de Beverly Hills.
Os looks parecem desconexos a princípio, porém eles se amarram através da energia divertida do Outono/Inverno 2025. Juntos, eles apresentam uma nova perspectiva dentro do estilo consolidado da marca.
Vemos saias curtinhas, justas e rodadas; batas de renda; coletes; e alfaiatarias simpáticas – tudo complementado com botinhas e meias de renda. Um macacão de couro preto convive bem com um vestido drapeado, camisas masculinas, xadrezes, hotpants e casacos mais longos.
Tudo é muito simpático e extremamente comercial. O único “senão” é a moda masculina, que pareceu desnecessária no desfile. Fora isso, a apresentação dinâmica não deixou a coleção cair na chatice. Uma moda comercial boa, que se faz necessária para limpar a visão.
KENZO
Para o Outono/Inverno 2025 da Kenzo, Nigo traz uma coleção leve, feminina e com uma abordagem girlie do streestyle. O clima do desfile parece uma festa do pijama infantil, onde cada um pode se vestir como quiser, sem pensar em convenções.
Com paleta de cores lavadas e tons mais amenos, Nigo brinca com as proporções em seus looks. Alguns exemplos são os blazers de lapelas arredondadas e as alfaiatarias soltinhas com tecidos mais pesados. Em contraponto, o designer compõe os looks com calças amplas levíssimas.
As sobreposições discretas, com underwears rendadas, regatas de cetim, bonés e luvas plumadas, são recursos que criam uma imagem divertida conscientemente. Paralelamente, os macacões em tecido vazados são modernos e fazem coro com a vibe da coleção.
Aos poucos, Nigo introduz xadrezes, pantufas e coelhos de pelúcia. As peças evoluem organicamente em parceria com jeans, tops, casacos longos e jaquetinhas – que fecham a narrativa fofa e lúdica do streetwear. O estilista não tem medo de arriscar as fichas, conseguindo pensar na moda jovem de forma diferenciada e antenada.
GIAMBATTISTA VALLI
Quem vê o desfile de Giambattista Valli na Paris Fashion Week sem um aviso quase não diz que se trata de um desfile do estilista. Com cores mais fechadas, Valli aposta em uma pegada dos anos 1970, com tecidos texturizados e muitos conjuntos. A coleção de Outono/Inverno 2025 não é uma das mais bonitas da maison, porém carrega uma narrativa muito bem organizada.
Além dos conjuntos mencionados, vemos muitos vestidos longos, com lindos trabalhos e drapeados. Alguns deles possuem rendas sobrepostas e babados, que trazem uma releitura discreta dos códigos de Valli.
As estampas são escuras e introspectivas. Enquanto isso, os casacos e coletes desempenhas o papel das peles na coleção. Com textura mais rústica, eles representam uma ideia sustentável (e talvez até uma crítica) ao sacrifício de animais para fazer roupas. De maneira geral, Giambattista Valli amadureceu bastante com uma coleção feita com começo, meio e fim, organizada e com boa narrativa.
VICTORIA BECKHAM
Victoria Beckham é sempre muito arrojadas em suas escolhas na moda e na coleção de Outono/Inverno 2025 não foi diferente: ela entregou uma boa alfaiataria funcional, bem cortada e com cores sóbrias, incluindo cinza, oliva e marrom. Mesmo que não seja famosa por looks marcantes, não dá para dizer que Beckham segue a manada. Pelo contrário, ela abraça aquilo que acredita e sempre busca inovar.
Vemos muitos blazers, jaquetas minimalistas e peças com barras e decotes enrolados. Os destaques da coleção são os vestidos retos, com decotes sem estrutura, drapeados e alongados. Além deles, vestidos justos com janelas transparentes ou com aberturas aramadas.
Tudo muito sofisticado e de um bom gosto ímpar! Victoria Beckham encontrou seu caminho, reunindo referências minimalistas dos anos 1990, amadurecendo em alguns pontos e superando algumas inseguranças como estilista.
YOHJI YAMAMOTO
Depois de um Outono/Inverno masculino mais pé no chão, foi bom ver o bom e velho Yohji Yamamoto em ação novamente. Dessa vez, as tradicionais desconstruções do estilista vêm com força total. Ele desmantela modelagens com a sabedoria de quem, apesar de tudo, continua buscando o novo, quebrando o racional da alfaiataria e depredando o pragmatismo das cavas, decotes e mangas.
Fazendo isso, Yamamoto reconstrói silhuetas, com direito a tecidos trançados, drapeados e franzidos, com golas e mangas invertidas. Algumas das peças desfiladas na Paris Fashion Week parecem até indecifráveis.
Os looks são majoritariamente pretos, com pouquíssimas intervenções de branco e roxo. Em relação aos tecidos, vemos as clássicas riscas de giz, brilhos discretos e couros maláveis. As peças são complementadas com fios, fitas e faixas que trazem mágica até às composições mais simples. É um recado claro de que a crise não pode derrubar a genialidade de um artista.
JUNYA WATANABE
Junya Watanabe é outro que também adora trabalhar desconstruções e desdobramentos. No desfile apresentado na Paris Fashion Week, esses conceitos chegam diferenciados: com um processo riquíssimo, em que ele desconstrói uma jaqueta de couro clássica e vai incorporando elementos geométricos – nos fazendo questionar o que é roupa e o que é arte.
O estilista foca mais nas partes de cima para o Outono/Inverno 2025, repetindo praticamente as mesmas calças simples em todos os looks. Ele rompe barreiras ao apresentar peças feitas de cabelos (uma crítica ao uso excessivo de peles?) e até botas que imitam as mangas das jaquetas.
Perto do fim, as peças chegam com aspecto estufadas/infladas. Além delas, vemos também opções feitas em patchwork de vinil e couro, cortadas em forma de caleidoscópio. É fascinante ver o inconformismo do designer, que busca soluções dinâmicas e criativas onde os demais se perdem em repetições.
HERMÉS
Completando 10 anos à frente do estilo feminino da Hermés, Nadège Vanhee-Cybulski apresenta uma coleção futurista-cool para o Outono/Inverno 2025. O desfile é bonito, sem muitos excessos e focado especialmente em couro. Uma moda discreta, que avança com a consciência de não desrespeitar os códigos da marca.
Trata-se de uma coleção com paleta quase toda escura, iluminada com tons de verde-maçã e oliva. As linhas são retas, dando espaço para os coletes em vários looks. O desfile também tem seus momentos Corpcore, porém sem perder a essência sensual.
Vale destacar também a presença de debruns, golas dobráveis, crochês canelados e veludos com zíperes localizados estrategicamente. Dá para dizer que Nadège se mantém firme em um trabalho consistente que sempre atende às expectativas para a Hermés.
ELIE SAAB
Elie Saab propõe um Outono/Inverno 2025 chiquérrimo durante a Paris Fashion Week. Ela brinca com high-low o tempo todo, entregando exatamente aquilo que promete: vestidos perfeitos, bordados incríveis, texturas riquíssimas e uma energia elegante que torna suas peças tão especiais.
As peles tomam conta da coleção, aparecendo em casacos, coletes, botas, acessórios e detalhes. Além delas, os tradicionais vestidos longos bordados também não ficam de fora – alguns com efeito degradê que remetam ao clima disco. Esses fazem dobradinha com a alfaiataria bem resolvida do designer.
Saab tenta anular o clima festivo das peças ao combiná-las com saias justas ou longas e leves. Em alguns casos, os vestidos são misturados com tricô para deixá-los menos “pomposos”. No entanto, talvez a ideia precisasse de um pouco mais de elaboração. A sensação que fica é que eles foram introduzidos gratuitamente apenas para não ficarem de fora do desfile.
COMME DES GARÇONS
Rei Kawakubo traz coleção com sua visão particular para o Outono/Inverno 2025, porém menos alegórica e mais intimista. Nada em sua moda é linear, binário ou respeita as regras. Ela segue as próprias métricas e inventa os próprios conceitos.
A estilista trabalha a desconstrução de formas diferenciadas, unindo moldes a partir de pontos específicos para criar novas formas. O que se vê a partir disso são vestidos indecifráveis, que trazem a sensação de que várias peças colidiram e se tornaram uma só.
Além disso, Kawakubo utiliza veludos, riscas de giz, xadrezes, patchworks gráficos, babados e retorcidos em seus looks. Incansável, ela mostra que ainda tem muito gás para impulsionar a nova geração e não se render ao mercado e suas instabilidades.
ALEXANDER MCQUEEN
Sean McGirr trouxe um desfile diferente à Alexander McQueen neste Outono/Inverno. Focado e cheio de personalidade, o estilista nem de longe lembra o menino perdido da primeira coleção à frente da marca. A energia da coleção é vampirista, com signos góticos e uma dose de drama.
Os looks possuem cores básicas, incluindo preto, branco, vermelho, roxo e verde-água. Eles trazem texturas e feitos que causam desejo sem parecerem aleatórios. Os bordados meio clássicos, meio góticos e medievais, ornam completamente com o clima da coleção.
McGirr usa golas altas, punhos embabadados, rendas clássicas ou bufantes para contrapor blazer e casaquetos com calças justíssimas. As peles chegam exageradas, mescladas com um trabalho felpudo ou emaranhada em babados.
As saias dos vestidos longos são volumosas, com frufurs nas barras. Já as mangas justas ganham um volume romântico e exagerado. Enfim, os sapatos incluem botinhas de cano curto e bico fino que completam a narrativa.
VALENTINO
Alessandro Michele apresentou sua segunda coleção para a Valentino em um cenário inusitado: um banheiro público vermelho! A coleção de Outono/Inverno 2025 é mista e segue a estética caótica da anterior, com pesquisa aprofundada dentro dos arquivos da marca.
As cores vão do amarelo ao roxo, passando pelos tons terrosos. Vemos referências dos anos 1960, 1970 e 1980 e, graças às sobreposições, tudo fica muito didático. Michelle entrega alfaiataria ampla, vestidos curtos e longos, jeans e lingeries.
As transparências e as rendas bordadas emprestam delicadeza aos longos, enquanto as rendas coloridas contrapõe com sensualidade. Por sua vez, os babados se tornam um fio condutor para a colcha de referências da coleção. Enfim, as peles também estiveram presentes em mais uma passarela.
BALENCIAGA
O desfile de Damna Gsavali na Paris Fashion Week é aparentemente desconexo, mas olhando mais de perto, é possível perceber que a coleção foi dividida em blocos. Os primeiros looks seguem a estética Corpcore, porém com claros toques de Balenciaga – incluindo alfaiatarias de tecidos amassados ou detonados.
Depois, vemos opções mais urbanas na passarela. As jaquetas ganham um tecido com toque emborrachado, as camisas possuem recortes de corset e os óculos são gigantescos. Entre as cores, predominam preto, azul-turquesa, lilás e rosa-chiclete.
No geral, as mulheres desfilam vestidos longos com decotes desabados, fendas que vão até a virilha e casacos longos ajustados por cintos largos. Já os homens pulam do escritório para jeans detonados e peças esportivas, resultado de uma parceria com Puma.
Dá para dizer que se trata de um desfile atípico da Balenciaga: são poucos os tuques de estilo, os ombros estão voltando ao lugar e as peças carregam uma energia “vida real” que há muito não se via. Algumas soluções até parecem meio bobas e cansativas, como o moletom que vira vestido longo e os casacos que viram minissaias.
LACOSTE
Pelagia Kolotouros segue com um ótimo trabalho à frente da Lacoste. Ela entrega um desfile minimalista, com viés esportivo e, ao mesmo tempo, sofisticado. As cores predominantes são branco, areia, grama e rosa.
Com linhas retas, Kolotouros brinca com peças bicolores com forro contrastante. Looks acetinados com efeito acolchoado, jaquetas arredondadas de couro, conjuntos de tecido refletivo e macacões práticos dão o tom da coleção de Outono/Inverno 2025.
Um ponto positivo é a falta de estrutura das peças (exceto nas alfaiatarias, que precisam ser mais ajustadas). A estilista democratiza as formas e unifica a linguagem entre homens e mulheres, com os mesmos materiais, modelagens e sobreposições.
A brincadeira com o famoso jacaré da marca vem em broches e em estampas de camisa. Um sopro de humor a um desfile mais sério, que se faz necessário para arrematar a coleção e fechar a apresentação com chave de ouro.
COPERNI
O desfile da Coperni na Paris Fashion Week foi ambientado em uma LAN Party, reunião social focada em videogames popular nos anos 1990. Dessa forma, a coleção de Outono/Inverno de Sébastien Meyer e Arnaud Vaillant reuniu diversas referências a protagonistas e jogos e filmes antigos.
Entre os looks, vimos jaquetas oversized combinadas com calças cargo de couro e camurça, bodies combinados com alfaiataria, parkas com zíper assimétrico, faixas na cabeça e estampas de tatuagem de dragão – no melhor estilo Lara Croft e The Girl with the Dragon Tattoo, respectivamente.
Os jeans aparecem desgastados com cintura baixa ao lado de jaquetas de couro e agasalhos xadrez. Nos pés, botas de couro foram inspiradas no visual de Resident Evil. Destaque especial ao lançamento do Ray-Ban Meta x Coperni Limited Edition Wayfarer, que combina moda com inteligência artificial.
Como conclusão, podemos dizer que Coperni acertou em cheio com as sobreposições entre geek e chique. A marca soube alinhar desejo, nostalgia e inspiração ao tratar da cultura tecnológica como ninguém.
SACAI
Shitose Abe faz mais do que desenhar roupas para a Sacai, mas também se motra sensibilidade pelo momento atual do mundo – com guerras, ansiedade para o futuro e instabilidades de mercado. Dessa forma, sua coleção para o Outono/Inverno 2025 traz peças que envolvem quem está vestindo como um abraço.
Cada um dos looks desfilados transmite a ideia de proteção. Com cores fechadas, Abe mantém sua tradicional desconstrução de maneira sofisticada e menos literal. Os tecidos são aconchegantes e os detalhes soam modernos, como as peças com plumas salpicadas e os maxi paetês em algumas composições.
A estilista reconstrói alfaiatarias de forma primorosa e acabamento impecável. Mantas e cachecóis são transpassados de maneira tão complexa que é quase impossível perceber onde eles terminam e onde começam os blazers. Na parte de baixo, vemos majoritariamente saias com fendas que aliviam a densidade das partes de cima.
As peles do desfile (falsas, ainda bem!) tem um efeito desgastado interessante. Além disso, algumas peças tem silks de obras do fotógrafo Man Ray – que, segundo Abe, foi o artista que mais trouxe beleza às mulheres. Mesmo com todo o conceito, ainda assim é uma coleção bastante funcional.
LOUIS VUITTON
Não há dúvidas sobre o quanto Nicolas Ghesquière está confortável após 10 anos à frente da direção criativa da Louis Vuitton. O estilista entrega uma coleção com forte inspiração oitentista e paleta de cores explosiva para o Outono/Inverno 2025, porém sem acabar em caricaturas.
Sua interpretação dos anos 1980 é fresca e moderna, incluindo calças baggy, ombros retos, estampas geométricas e até maquiagens exageradas. Por outro lado, o tecido plastificado em algumas peças traz ares modernos. Ghesquière mistura esses elementos de forma segura, imprimindo os efeitos que deseja.
O Corpcore é apresentado com leveza, somado a referências esportivas, xadrezes aconchegantes e silhuetas marcadas. Os florais aparecem sem cafonice, com fundos mais escuros e lindas saias amplas de babados. Por fim, as modelos cruzam a pasarela com clássicas botas franzidas nos pés.
Com um trabalho que possui continuidade genuína (uma raridade nos tempos atuais, podemos dizer), o estilista entrega uma coleção que dá a ligeira impressão de que é um desdobramento melhorado da anterior. O clima é de novidade, com certa nostalgia – deixando um gostinho de Sessão da Tarde a quem vivenciou.
MARINE SERRE
O desfile de Marine Serre foi realizado simplesmente na Monnaie de Paris, edifício em que era fabricado todo o dinheiro da França. Em sintonia, a estilista reuniu diversas referências em sua coleção – desde homenagem à sala vermelha de Twin Peaks até os casacos de pele de Andre Leon Talley, saudoso editor de moda.
O conceito da coleção é abordar a relação do tempo contra o dinheiro. No entanto, o que vemos é uma série de looks fetichistas, muitos deles feitos em couro, com o logo da meia-lua de Marine.
A estilista adora um viés sensual, porém sem obviedades. Dessa forma, entrega peças que flertam com o boudoir, com camisolas e combinações acetinadas e com rendas. A energia sexy é contraposta pelas luvas e meias de tigre, que tornam o clima mais bem-humorado.
Couros desgastados, vestidos justos e transparentes são apenas um preâmbulo que prepara para os looks mais impactantes ao final. Entre eles, um mini vestido feito de pulseiras de relógio, um feito de moedas (cunhadas especialmente para a ocasião!) e um que lembrava vagamente poltronas capitonê.
CHANEL
Chanel deu início ao último dia de desfiles da Paris Fashion Week com a terceira coleção assinada pelo seu estúdio de design. A marca entregou um Outono/Inverno mais ameno, com grande foco na feminilidade dos looks. O conceito foi transmitido pelo uso de mangas bufantes, transparências, babados e, acima de tudo, pelos laços!
Enquanto diversas marcas olham para o Corpcore, a Chanel optou por uma agenda completamente oposta. Sendo assim, a coleção é composta por muitos mini comprimentos e cartela de cores suaves – que não se limita apenas ao preto assinatura.
Entre os tecidos, vemos a já tradicional onipresença de matelassê e tweed. Além dos laços, outras protagonistas dos looks foram as pérolas. Elas são incorporadas em bolsas, colares, cintos e até nos saltos dos sapatos. O desfile traz ainda mais curiosidade sobre a estética que Mathieu Blazzy adotará em sua chegada à maison.
MIU MIU
O desfile de Outono/Inverno 2025 da Miu Miu foi marcado pelos looks juvenis, coloridos e otimistas. O conceito era como se a irmã mais nova da Prada tivesse pegado suas roupas emprestadas. Com isso, as silhuetas foram atualizadas para calças de corrida formalmente plissadas, ternos com saias de lã e boleros estruturados.
Pulôveres com zíper foram cortados assimetricamente, enquanto os vestidos florais caíam dos ombros (como se a peça emprestada fosse um tamanho maior, rs). Outra brincadeira foi a alfaiataria combinada com meias de algodão até o joelho ou meias pretas cobertas com cristais e strass.
Na temporada da pele, Miuccia Prada abusou de todos os tipos de estolas, usadas como cachecóis e cortadas com bolsos para aquecer as mãos. Próximo ao fim, vieram looks couro afiados, seguidos de vestidos de seda sem alças, com os sutiãs sempre à mostra.
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