SCHIAPARELLI, DIOR, RAHUL MISRA, GIAMBATTISTA VALLI, CHANEL, ARMANI PRIVÉ, RVK, VALENTINO E VIKTOR&ROLF, GAURAV GUPTA DESFILARAM SUAS CRIAÇÕES PARA O VERÃO 2025
A Semana de Alta Costura de Paris começa segunda-feira (27) e vai até quinta-feira (30). Reduzido, o evento é realizado paralelamente à Semana de Moda de Copenhagen, que chega ao fim um dia após. Schiaparelli é a maison a abrir a semana de moda, enquanto Germanier fechará os desfiles com sua estreia na Alta Costura. Um dos momentos mais aguardados está marcado para quarta-feira (29): a estreia de Alessandro Michele na Alta Costura da Valentino!
Além disso, Jean Paul Gaultier também chama atenção ao convidar Ludovic de Saint Sernin para emprestar sua criatividade à marca. A Chanel também desfila, porém ainda sem a direção de Matthieu Blazy. Outras grandes marcas também apresentam seus shows: Christian Dior, Giambattista Valli, Giorgio Armani, Elie Saab, Viktor&Rolf e Zuhair Murad. Enquanto isso, Fendi e Maison Margiela, ambas sem diretor criativo por enquanto, pulam essa estação.
Confira a cobertura completa dos destaques da Semana de Alta Costura de Paris abaixo!
SCHIAPARELLI
Daniel Roseberry andou na contramão da atual crise no mercado de luxo ao dizer “não” ao minimalismo. Pelo contrário, o designer celebrou as formas históricas e as técnicas de bordado no desfile que abriu a Semana de Alta Costura – o qual chamou de “Ícaro”.
Os looks de Schiaparelli se mostraram menos alegóricos e mais artísticos. Para isso, Roseberry equilibra rigor e fantasia. Cada uma das peças associa texturas, silhuetas interessantes e a extravagância que se espera dele.
Entre as cores, preto, dourado suave e marrom. O designer contou que foi inspirado por uma visita a uma loja de antiguidades dos anos 1920 e 1930 para a escolha dos tons. Os tules, pérolas e plumas chegam para complementar as peças.
Acima dos tecidos e acabamentos, o que eleva as criações de Roseberry são os cortes quase arquitetônicos das peças. Dureza, rigidez e leveza se encontram em um mesmo look. Essas características alinhadas à cintura marcada criam uma espécie de “movimento congelado”. Schiaparelli se superando mais uma vez.
DIOR
A Dior desfilou sua coleção de Alta-Costura do Verão 2025 no jardim do Museu Rodin, em Paris. Com certo clima de despedida de Maria Grazia Chiri, os looks foram inspirados no universo de Aline no País das Maravilhas e nas pinturas surrealistas – em especial, das artistas Leonor Fini e Dorothea Tanning.
O que marca a coleção são os shortinhos balonês e as saias bufantes. Eles conferem movimento e leveza, ao passo em que os mini paletós e casaquetos acinturados chegam como um contraponto. Espartilhos, anquinhas, crinolinas e aplicações de flores e/ou plumas completam a estética das peças.
A maioria das criações traz texturas, volumes, pregas, drapeados e muitos babados. Enfim, rendas e os laçarotes finos nas cinturas ajudam a reforçar a referência romântica adotada para o desfile.
Com boatos de substituição por JW Anderson, Maria Grazia pode sair de cabeça erguida pela ótima vigência nos últimos oito anos e os números altíssimos que alcançou frente à direção criativa da maison.
RAHUL MISHRA
As inspirações de Rahul Mishra para o Verão 2025 vão desde a crise de poluição em Déli (sua cidade-base na Índia) até a perda recente de seu pai. O livro “The Pale Blue Dot” também provocou reflexões ao estilista em relação à insignificância do planeta Terra. Dessa forma, quase todos os looks são feitos em preto – com inserções de dourado próximo ao final.
As peças apresentadas têm silhueta mais alongada, justa e texturas tridimensionais. Mishra trouxe certo tom de irreverência ao abraçar conceitos de Art Déco, além de fugir do convencional com decotes e bordados suspensos.
Os looks que mais chamam atenção são os mais alegóricos – com flores, pássaros e até prédios conectados aos vestidos. Os círculos espelhados em algumas das peças também se destacam ao trazerem ares dos anos 1960 à coleção.
Rahul Mishra elevou a Alta-Costura a um nível teatral, com alguns traços de ficção científica. Com elegância, a maison soube manter o bom humor, mesmo ao abordar tópicos profundos, sérios e sensíveis em seu desfile.
GIAMBATTISTA VALLI
Giambattista Valli é apaixonado pela cultura do Marrocos. Não apenas porque é de onde vem sua companheira, mas também pela sensualidade sofisticada do país. Essa foi sua inspiração para a coleção “Les Jardins de la Ménara” – que faz referência aos jardins e pomares históricos de Marrakesh.
Um dos reis dos tapetes vermelhos, Giambattista parece amadurecer e entregar coleções cada vez mais coerentes. Os looks coloridos, alternados entre tons vibrantes e lavados, elevam a energia do desfile. Paralelamente, ele brinca com drapeados, plissados e volumes que trazem ares dos anos 1980.
O designer equilibra em uma mesma passarela vestidos conservadores, de corte reto e silhueta enxuta, com opções mais festivas, delicadas e com decotes ultrafemininos. Vale destacar as peças com textura plumada, que são, na verdade, um tecido navalhado e modelado – uma nova perspectiva para a redução do consumo do plumário animal!
CHANEL
Realizado no Grand Palais em Paris, o desfile de Alta-Costura da Chanel celebrou os 110 anos da maison. O cenário recriava o famoso logo dos Cs interligados, enquanto dezenas de celebridades ocupavam a primeira fila – incluindo a brasileira Fernanda Torres!
Os looks do Verão 2025 representam um resgate aos principais códigos da Chanel, entre eles: correntes douradas, botões metálicos e bordados minucioso. Esses elementos são combinados com detalhes boêmios (repare nas mangas bufantes e saias amplas!) de maneira a criar um equilíbrio entre clássico e contemporâneo.
Além disso, a coleção traz releituras dos anos 1980, incluindo ombreiras marcantes, laços volumosos e silhuetas assimétricas. Em relação às cores, a maison opta pela transição do branco até o brilho vibrante de amarelo, lilás, azul-escuro e preto.
Vale destacar que o desfile marca a transição criativa da Chanel, entre a saída de Virginie Viard e a estreia de Matthieu Blazy. O novo diretor criativo assumirá a posição apenas ao final de 2025.
ARMANI PRIVÉ
O braço de Giorgio Armani na Alta-Costura comemorou 20 anos com um longo desfile repleto de clássicos. Apresentada no recém-inaugurado Palazzo Armani, a coleção teve quatro regiões como inspiração: Japão, Índia, Norte da África e Polinésia.
O desfile começou com looks mais “reais”, que rapidamente deram lugar a vestidos longos e enxutos, com bordados e trabalhos extremamente delicados. Os tecidos trazem um toque acetinado, alguns com brilho e outros não, enquanto a paleta de cores adota tons neutros ou aguados, como lilás e rosa-claro.
Além dos vestidos já comentados, as peças incluem jaquetas ajustadas, coletes geométricos e paletós retos. Elas se contrapõe às saias e às calças mais soltinhas, que também foram combinadas com os próprios vestidos – dando um toque de jovialidade à coleção.
Sendo um estilista que sobreviveu à era analógica da moda, Armani segue imutável. O estilista confia em sua intuição e em sua forte assinatura, não se deixando levar pelos ventos da tecnologia. Mais uma vez, entregou aquilo que faz de melhor em Privé.
RONALD VAN DER KEMP
RDVK abraçou o espírito mais do que nunca com a coleção “Let the Sun Shine In” (em português, Deixe o Sol Brilhar). Sua inspiração mais clara foi a moda parisiense entre as décadas 1970 e 1980 – o que resultou em looks coloridos, colagens e artesanato em constante mudança.
O desfile foi de Alta-Costura foi conceitual e bem-humorado, sem que os looks tivessem, necessariamente, um fio condutor entre si. Mesmo parecendo confuso, as peças se relacionavam pela vibe exagerada, dançante e psicodélica (ou seja, tudo a ver com o período abordado).
Os patchworks complexos e os tecidos acetinados são destaques entre os looks. Eles aparecem tanto em saias alongadas, quanto em modelos volumosas e drapeados. Os bordados múltiplos, aplicações de flores e tecidos dourados são os elementos que trazem a magia à la RVDK.
Tudo acontece ao mesmo tempo na moda de Van Der Kemp. Assim, é preciso olhar de perto para tentar entender. O estilista não tem medo de errar, ao que desafia os conceitos do que é estranho ou bonito. Ele nos proporciona uma viagem que queima os olhos, mas que faz bem à alma de quem ama moda.
VALENTINO
Alessandro Michele fez sua tão esperada estreia na Alta-Costura da Valentino com desfile no Palais Brongniart, em Paris. Os 48 looks apresentados evocavam memórias visuais e simbólicas da maison, ao que a coleção recebeu o nome “Vertigineux” (em português, Vertiginoso).
As peças de Michele incluem referências aos casacos de Luís XIV, crinolinas aparentes e até máscaras da luta livre mexicana. Já os tradicionais códigos da Valentino, incluindo as flores românticas, o rosa pink e os bordados, ganham ares teatrais com o novo designer.
Como ele mesmo definiu, seus vestidos para a coleção são “uma pluralidade de universos interconectados”. Alguns deles possuem a parte de cima mais ajustada, com saias longas e amplas. O uso de patchwork, franjas festivas, babados românicos e armaduras com aplicações também merece destaque.
Em conclusão, os looks são extremamente midiáticos e possuem grande potencial de serem vistos nos tapetes vermelhos e/ou viralizarem nas redes sociais. O clima do desfile foi como um baile de carnaval medieval (e dos bons, viu?). Enfim, tudo era permitido no universo criativo praticamente inesgotável de Alessandro Michele.
VIKTOR&ROLF
Os mestres em extrair grandes desfiles a partir de referências inusitadas apresentaram a coleção “Couture Prompt” na Semana de Alta-Costura. O conceito foi de explorar variações das mesmas peças. Assim, vimos uma apresentação compacta, com simples jeans, camiseta e sobretudo bege – porém que se desdobravam em looks super criativos!
As combinações entre as três peças avançaram ao longo do desfile: os volumes cresceram, as silhuetas se tornaram mais experimentais (incluindo balonês e mangas bufantes) e os babados se tornaram elementos indispensáveis. Os shapes deformados davam a impressão de que as peças tinham saído diretamente do filme “A Substância”.
A paleta de cores se resume a azul-marinho, bege e branco. Já os laços aparecem como protagonistas em quase todas as criações. Enfim, a dupla impactou mais uma vez com as suas boas ideias, ótimas execuções e efeitos mirabolantes.
JEAN PAUL GAULTIER
Contrariando as expectativas, Ludovic de Saint Sernin mostrou intimidade com o universo JPG ao estrelar como estilista convidado da temporada. Ele escolheu “Le Naufrage” (em português, o Naufrágio) como tema para uma coleção fetichista, irreverente e cheia de elementos náuticos.
Ludovic criou vestidos lânguidos, com silhueta ajustada ao corpo e aparência de sereia. Teias de macramê, decotes que lembravam lemes de navio, ancoras, cordas que “enforcavam” vestidos foram elementos que marcaram os looks.
Além disso, os drapeados levíssimos e as transparências delicadas contrapunham as ilhoses e as amarrações de corset. Vale destacar que esses já são velhos conhecidos de JPG, mas que Sernin desdobrou e desconstruiu com classe e bom gosto.
Dessa forma, o convidado entregou uma coleção com certa dose de ironia, sensualidade na medida e drama contido – um match perfeito com Jean Paul Gaultier!
ELIE SAAB
Elie Saab consegue se manter relevante, interessante e provocar desejo mesmo após o grandioso desfile de 45 anos da marca, realizado em novembro. O estilista decidiu celebrar a vida após o período turbulento em Beirute, sua cidade-natal no Líbano. Isso se refletiu em uma coleção colorida, romântica e graciosa.
Os vestidos aparecem em formas ajustadas, com decotes em formato de coração, rendas leves e bordados suaves. As aplicações de flores aparecem quase todos os looks, além das lantejoulas, xales e capas volumosas que também merecem destaque. Em contraste, vestidos com corpetes esculpidos trouxeram imponência ao desfile.
Enfim, o jeans ganhou um toque luxuoso pelas mãos de Saab. A tonalidade se contrapoz aos rosas, beges, amarelos e azuais-claros vistos em grande parte da coleção.
GAURAV GUPTA
Gaurav Gupta emergiu das cinzas após cancelar seu último desfile de Alta-Costura devido a um incêndio que destruiu seu ateliê em Déli, na Índia. Sua companheira Navkirat Sohdi sofreu queimaduras graves e passou por diversas cirurgia após a tragédia. Foi ela quem abriu o desfile profundamente extremamente pessoal do Verão 2025, ao que o estilista chamou de “Across The Flame” (em português, Através da Chama).
Impecável, a coleção é uma viagem espiritual, com paleta de cores dominada pelo preto, shape alongado, volumes, golas e saias arquitetônicas e drapeados. As construções complexas, incluindo estruturas armadas que parecem flutuar sobre as peças, elevam o status dos looks a um nível onírico.
O fascínio de Gupta pelas armaduras aparece em estruturas prateadas que simulam os contornos do corpo. Assim, as peças ganham um glamour arrojado e refinado. O estilista transformou a tragédia em um dos melhores desfiles da semana – uma afirmação de “amor, poder e cura”, como ele mesmo definiu.
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