Liberdade ou produto? A polêmica calcinha com pelos da SKIMS

Kim Kardashian voltou a movimentar a internet. Depois de lançar sutiãs com bicos aparentes e acessórios inusitados, a empresária e fundadora da SKIMS apresentou um novo produto que mistura ironia, provocação e estratégia de marketing. A peça, chamada Ultimate Bush Faux Hair Panty, é uma calcinha fio-dental que vem com pelos pubianos artificiais embutidos, em um estilo que remete aos anos 1970, a chamada “era dourada do bush”.

A campanha, lançada com estética retrô e toques de humor, rapidamente viralizou nas redes sociais. Mas, por trás das risadas e dos memes, a criação de Kardashian levanta uma questão que ultrapassa o campo da moda íntima: afinal, as mulheres conseguem realmente vencer quando o assunto é pelos corporais?

Liberdade ou produto? A polêmica calcinha com pelos da SKIMS, the ultimate bush
Foto: Divulgação/Cortesia

O produto que ninguém esperava (e todo mundo comentou)

A ideia de uma lingerie com pelos artificiais parece, à primeira vista, absurda. Ainda assim, o item esgotou no site da SKIMS em poucas horas, disponível em diferentes cores e tamanhos. O sucesso comercial mostra que a proposta, por mais excêntrica que pareça, encontrou um público curioso e disposto a explorar a ironia embutida na peça.

A marca descreve o produto como uma celebração da escolha individual, incentivando as consumidoras a “personalizar a cor do seu bush conforme o humor do dia”. O discurso de liberdade e diversidade estética, contudo, soa ambíguo quando lembramos que o mesmo mercado que agora vende “bushes falsos” foi o responsável por popularizar padrões estéticos rígidos e dolorosos, como a depilação a laser e a eliminação total dos pelos.

Liberdade ou produto? A polêmica calcinha com pelos da SKIMS, the ultimate bush
Foto: Divulgação/Cortesia

Da militância ao marketing: o ciclo do corpo feminino como tendência

Nos últimos anos, o movimento pró-pelos ganhou força nas redes sociais, principalmente entre mulheres da Geração Z. O termo “full bush in a bikini”, popularizado no TikTok, virou símbolo de autoaceitação e resistência contra os padrões de beleza impostos. A mensagem original era clara: cada mulher deve ter autonomia para decidir o que fazer com seu próprio corpo.

No entanto, quando o ativismo estético se torna uma oportunidade de mercado, a mensagem se enfraquece. Marcas de moda e beleza transformam pautas políticas em estética de consumo, diluindo o significado de empoderamento. O resultado é uma nova forma de controle, disfarçada de liberdade: o corpo feminino volta a ser moldado por tendências passageiras e interesses comerciais.

Liberdade ou produto? A polêmica calcinha com pelos da SKIMS, the ultimate bush
Foto: Divulgação/Cortesia

Entre o empoderamento e a contradição

O lançamento da calcinha “bush” da SKIMS ilustra um dilema recorrente na indústria da moda: o de vender subversão como produto. Enquanto o discurso fala de liberdade, o mecanismo continua o mesmo: ditar o que é aceitável ou desejável. Quando o corpo feminino se torna palco para o marketing, até a rebeldia vira mercadoria.

É difícil não enxergar o produto como uma ironia do próprio sistema. As mulheres foram ensinadas a depilar, raspar, remover. Agora, o mesmo mercado que lucrou com a ausência de pelos convida a comprá-los de volta, em formato sintético. A provocação funciona, mas também expõe o quanto o discurso de liberdade é frequentemente condicionado pelo consumo.

Liberdade ou produto? A polêmica calcinha com pelos da SKIMS, the ultimate bush
Foto: Divulgação/Cortesia

O corpo como campo de batalha cultural

Mais do que uma simples peça íntima, a Ultimate Bush Faux Hair Panty se transforma em um símbolo das contradições contemporâneas sobre feminilidade e controle do corpo. A campanha brinca com o absurdo, mas reflete um tema profundo: o modo como a sociedade dita a aparência, até nas regiões mais íntimas.

Enquanto as tendências mudam, o corpo feminino segue no centro das disputas culturais, ora idealizado, ora questionado. A verdadeira revolução, porém, não está em aderir a um novo padrão, e sim em ignorá-lo completamente. O poder não está em comprar a calcinha da moda, mas em decidir livremente o que fazer com o próprio corpo.

Veja também: O Retorno do Brilho: Batom Metalizado em 2025.

Liberdade ou produto? A polêmica calcinha com pelos da SKIMS, the ultimate bush
Foto: Divulgação/Cortesia

Para além do produto: um convite à autonomia

O lançamento da SKIMS pode ser visto como um espelho das tensões entre autenticidade e espetáculo. O que começa como uma provocação de marketing acaba expondo a necessidade urgente de um debate mais profundo sobre autonomia, autoimagem e consumo.

Afinal, a liberdade estética só existe quando não depende da validação de uma marca, de um influenciador ou de um algoritmo. Cada mulher tem o direito de escolher se quer depilar, deixar crescer, tingir ou simplesmente não pensar sobre isso. No fim das contas, o verdadeiro empoderamento está em recusar o jogo que transforma o corpo em tendência.

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