Clarks anuncia parceria com a Shein e amplia sua presença digital

A Clarks, uma das maiores empresas de calçados do mundo, está reforçando sua estratégia de varejo digital e acaba de anunciar uma parceria com a plataforma de fast fashion Shein. Com mais de 200 anos de história, a marca britânica passa a estar presente em novos canais online, em uma movimentação que busca alcançar consumidores em diferentes perfis e mercados, sem depender apenas de lojas físicas ou do seu e-commerce próprio.

Segundo a companhia, o objetivo é claro: estar onde o cliente está. Ao intensificar sua atuação em marketplaces e plataformas digitais, a Clarks tenta acompanhar a mudança de hábitos de consumo, marcada por compras cada vez mais guiadas por conveniência, preço e variedade. A diversificação de canais também é uma forma de competir em um cenário em que grandes varejistas globais disputam espaço na tela do celular, mais do que nas vitrines tradicionais.

Clarks anuncia parceria com a Shein e amplia sua presença digital
Foto: Reprodução

Expansão para novos marketplaces e grandes varejistas

No Reino Unido, os produtos da Clarks passam a ser vendidos tanto na Shein quanto na plataforma Secret Sales, ampliando o alcance da marca em ambientes digitais já conhecidos pelo público por reunir diferentes etiquetas em um só lugar. A presença nesses marketplaces insere a Clarks em um fluxo de descoberta guiado por algoritmos, buscas e promoções, em que o consumidor encontra desde itens de entrada até produtos de maior valor agregado em poucos cliques.

Nos Estados Unidos, a estratégia de expansão digital já vinha sendo construída com a entrada da Clarks no catálogo da varejista Walmart. A novidade agora é a inclusão da Target como distribuidora a partir de dezembro, fortalecendo a presença da marca em redes que combinam forte operação física com plataformas online robustas. A mensagem é consistente: mais pontos de contato, mais oportunidades de compra e uma presença mais constante no dia a dia do consumidor.

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Shein em meio a questionamentos e controvérsias

Ao mesmo tempo em que representa alcance massivo, a parceria com a Shein insere a Clarks em um contexto de debates públicos sobre ética, responsabilidade e limites da estratégia de crescimento em plataformas de fast fashion. A Shein tem sido alvo de críticas recorrentes, e recentemente voltou ao centro das discussões após a polêmica envolvendo um suposto produto de sex doll com aparência infantil disponível em sua plataforma, o que gerou indignação em diferentes frentes.

O episódio desencadeou uma forte reação na França, especialmente em Paris, onde a abertura de uma loja da Shein em uma tradicional loja de departamentos da cidade motivou um abaixo-assinado contra sua presença física. Mais de 100 mil cidadãos franceses assinaram a petição online, expressando preocupação com a atuação da empresa e pedindo posicionamento das autoridades e do varejo local frente ao caso e ao modelo de negócios adotado pela plataforma.

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O dilema entre alcance, reputação e responsabilidade

Para a Clarks, entrar em um marketplace como a Shein significa, por um lado, acesso imediato a uma base gigantesca de consumidores globais, acostumados a descobrir novos produtos por meio de recomendações, listas de tendências e promoções-relâmpago. Em um mercado de calçados altamente competitivo, essa exposição adicional pode representar um ganho relevante de visibilidade e vendas, principalmente em segmentos mais sensíveis a preço, que comparam valores e modelos em diferentes marcas antes de decidir.

Por outro lado, a decisão também coloca a marca no centro de discussões sobre reputação corporativa, valores e responsabilidade social. Consumidores atentos a questões de direitos trabalhistas, impactos ambientais e ética na comunicação podem questionar a aproximação com uma plataforma que frequentemente aparece em debates públicos. Nesse cenário, marcas consolidadas precisam equilibrar o desejo de expansão com o cuidado em não comprometer percepções construídas ao longo de décadas, especialmente quando seu posicionamento está associado a qualidade, durabilidade e confiança.

Estratégia digital em um mercado em transformação

O anúncio reforça uma tendência mais ampla: grandes marcas de moda e calçados procuram, cada vez mais, combinar seus próprios canais com uma presença estratégica em plataformas de terceiros. A lógica é complementar, e não excludente – o site oficial continua sendo um espaço de controle total de narrativa, branding e experiência, enquanto os marketplaces funcionam como vitrines de alto tráfego para conversões rápidas e alcance ampliado, sobretudo entre novos públicos que talvez não tivessem contato anterior com a marca.

Ao declarar que quer atender o cliente “onde quer que ele esteja”, a Clarks sinaliza uma leitura pragmática do mercado. Em vez de enxergar plataformas como Shein, Walmart ou Target apenas como concorrentes indiretos, a empresa passa a tratá-las como parceiras de distribuição, assumindo que o comportamento de compra hoje é fragmentado, híbrido e orientado pela praticidade. Essa visão ajuda a explicar por que marcas tradicionais têm buscado novos arranjos comerciais, testando modelos que vão do atacado tradicional às vendas diretas em ecossistemas digitais de grande escala.

Veja também: Normando marca presença histórica na COP30 em Belém.

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O que observar a partir dessa parceria

A expansão digital da Clarks, com a entrada em plataformas como Shein e Secret Sales no Reino Unido e o reforço da presença em grandes varejistas americanos, deve servir como termômetro para entender até que ponto consumidores estão dispostos a encontrar marcas tradicionais dentro de ecossistemas dominados pelo fast fashion. Os resultados dessa estratégia podem influenciar movimentos semelhantes de outras empresas do setor, seja fortalecendo a tendência de integração com marketplaces, seja incentivando modelos mais seletivos de parceria.

Ao mesmo tempo, a continuidade das críticas à Shein, especialmente em mercados sensíveis como o europeu, tende a manter aceso o debate sobre os limites das parcerias comerciais. A forma como marcas globais vão se posicionar diante dessas controvérsias, seja por meio de comunicação mais transparente, compromissos públicos ou revisões estratégicas, será um dos pontos-chave para acompanhar nos próximos capítulos dessa história, em que expansão digital, reputação e responsabilidade caminham lado a lado.

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