Giorgio Armani morre em Milão aos 91 anos

Giorgio Armani morreu em Milão aos 91 anos, um dos nomes mais influentes da moda italiana e pioneiro na aproximação entre celebridades e passarelas. Nascido em Piacenza, em 11 de julho de 1934, ele deixa um legado que redefiniu a alfaiataria dos anos 1970 e 1980 e projetou o “Made in Italy” no mundo com uma estética moderna, precisa e descomplicada. Em nota, funcionários e familiares lamentaram “o vazio” deixado pelo fundador e se comprometeram a proteger o que ele construiu e a levar a empresa adiante com respeito, responsabilidade e amor.

A câmara ardente será montada no Armani/Teatro, na Via Bergognone 59, em Milão, aberta ao público de sábado a domingo, das 9h às 18h. Em respeito ao desejo expresso por Armani, o funeral será privado. No comando do grupo como presidente, CEO e diretor criativo, ele se preparava para celebrar os 50 anos da casa com desfile e festa ainda neste mês; em 20 de junho, a companhia já havia informado que, em sua ausência, Leo Dell’Orco faria a saudação final nos desfiles masculinos enquanto o criador se recuperava em casa.

Giorgio Armani morre em Milão aos 91 anos
Foto: Reprodução

Um império privado e uma visão independente

Além da revolução estética, Giorgio Armani construiu um dos mais admirados impérios privados do setor, com um portfólio que vai de T-shirts a vestidos de gala, de velas a hotéis e residências, de perfumes a skincare. O grupo encerrou 2023 com receita líquida de 2,44 bilhões de euros e 1,03 bilhão de euros em caixa e investimentos financeiros, números que refletem gestão prudente, baixo endividamento e foco em rentabilidade. Essa musculatura empresarial sempre caminhou lado a lado com uma direção criativa coerente e uma leitura clara do mercado.

Em 2017, numa guinada estratégica, o estilista descontinuou Armani Collezioni e Armani Jeans, concentrando a arquitetura de marcas em Giorgio Armani, Emporio Armani e A|X Armani Exchange. Manteve o alto padrão da Armani Privé (lançada em 2005, apresentada em Paris) e blindou a independência do grupo com a Fundação Giorgio Armani (2016), criada para apoiar projetos sociais e resguardar a governança segundo princípios de autonomia, ética, inovação, excelência, investimentos responsáveis, prudência financeira e cautela em aquisições.

Giorgio Armani morre em Milão aos 91 anos
Foto: Reprodução

A estética que mudou a forma de vestir

Desde 1975, Giorgio Armani promoveu um guarda-roupa moderno e preciso, com alfaiataria fluida e cortes desconstruídos em tecidos como viscose e crepe de lã. Sua paleta “greige”, gradações de cinzas, beges e taupes, pontuada às vezes por laranja e fúcsia, tornou-se sinônimo de elegância silenciosa. Para as mulheres que ascendiam no mundo corporativo nos anos 1980, ele propôs formalidade mais macia e feminina, sem recorrer ao excesso de ornamentos. Sua filosofia era clara: roupas simples, práticas e sofisticadas, que não sacrificassem conforto ou identidade.

O auge da fama internacional veio em 1980, quando Armani vestiu Richard Gere em “American Gigolo”, consolidando sua marca em Hollywood. Daí em diante, tornou-se referência incontornável para o Oscar e outras premiações, vestindo nomes como Sophia Loren, Robert De Niro, Cate Blanchett, Tom Cruise, Glenn Close, George Clooney, Tina Turner e Jodie Foster. Seu sucesso entre estrelas reforçou a ponte entre moda e cultura pop, moldando a forma como o público via tanto a passarela quanto o tapete vermelho.

Giorgio Armani morre em Milão aos 91 anos
Foto: Reprodução

Negócios, beleza e hospitalidade

Giorgio Armani soube expandir sua marca além da moda. Em parceria com a L’Oréal, desenvolveu um dos maiores impérios de fragrâncias e cosméticos, com mais de 40 perfumes e linhas de skincare e maquiagem que figuram entre os best-sellers mundiais. Em 2005, firmou acordo com a Emaar Properties para desenvolver os Armani Hotels & Resorts, abrindo unidades no Burj Khalifa em Dubai (2010) e em Milão (2011), além de projetos em destinos como Diriyah, na Arábia Saudita.

O criador também inaugurou o espaço cultural Armani Silos em 2015, em Milão, concebido como arquivo vivo de sua trajetória e palco para exposições e workshops gratuitos. Ali, reforçou a dimensão educativa e cultural de sua marca, aproximando-se de cineastas como Luca Guadagnino em iniciativas formativas. Essa capacidade de cruzar fronteiras entre moda, arte, arquitetura e lifestyle consolidou Giorgio Armani como visionário além das passarelas.

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Foto: Reprodução

Prêmios, honrarias e impacto cultural

Ao longo da carreira, Giorgio Armani recebeu distinções que vão do Neiman Marcus Award (1979) à Legion d’Honneur francesa (2008), passando por títulos honorários em design industrial e moda. Foi reconhecido como Goodwill Ambassador do Alto Comissariado da ONU para Refugiados e homenageado no Rodeo Drive Walk of Style, em Beverly Hills. Esses prêmios refletem tanto sua contribuição estética quanto seu engajamento social e humanitário.

Sua marca alcançou reconhecimento comparável a gigantes como Coca-Cola e Microsoft nos rankings da Interbrand. Apesar das ofertas de venda nos anos 1990 e 2000, Giorgio Armani sempre reafirmou sua recusa em abrir mão do controle: preferiu manter-se independente, preservando a coerência criativa e o espírito fundador do grupo. Para ele, mais importante do que crescer a qualquer custo era garantir a autonomia e a perenidade da empresa.

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O homem por trás da marca

Conhecido por sua disciplina e estilo pessoal, sempre em jeans e camiseta azul marinho ajustada, Giorgio Armani cultivava a imagem de designer incansável. Supervisionava pessoalmente tudo, desde a altura das cortinas de seus escritórios até as flores dos jantares de gala. Ao mesmo tempo, apreciava momentos de lazer em seu iate Maìn, em sua casa em Pantelleria ou em destinos como St. Moritz e Forte dei Marmi. Ainda assim, admitia que sacrificou a vida pessoal em nome do trabalho, especialmente após a morte de seu companheiro e sócio Sergio Galeotti, em 1985.

Sua mãe, Maria, foi influência decisiva em seu olhar estético, e seu pai, Ugo, inspirou a ética de trabalho. Giorgio Armani começou a carreira como vitrinista na loja La Rinascente, em Milão, e só em 1975 lançou sua própria marca com Galeotti. Desde então, construiu uma trajetória que uniu rigor, inovação e independência, tornando-se não apenas um estilista, mas um dos maiores arquitetos do luxo contemporâneo. Seu legado perdura como símbolo de sofisticação atemporal e da força do design italiano no mundo.

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