O Senado da França aprovou uma nova versão de uma lei que visa limitar os impactos ambientais do Ultra-Fast Fashion, mirando diretamente plataformas de comércio como Shein e Temu. Caso entre em vigor, a legislação proibirá a publicidade de empresas enquadradas na categoria de “ultra-fast fashion”, um modelo de negócios baseado em produção acelerada, preços extremamente baixos e forte apelo nas redes sociais.
A proposta é um marco importante na tentativa da França de reduzir o consumo desenfreado de roupas de baixo custo, que alimenta o descarte acelerado e intensifica os danos ecológicos causados pela moda. O projeto foi aprovado quase por unanimidade no Senado e agora segue para ajustes finais junto à Assembleia Nacional.
Diferença entre fast fashion e ultra-fast fashion
Uma das inovações do projeto de lei é a distinção clara entre fast fashion tradicional e o chamado ultra-fast fashion. Enquanto marcas como Zara e Kiabi continuam operando sob diretrizes europeias com restrições menos rígidas, empresas como Shein e Temu passam a ser classificadas em uma categoria mais crítica, devido ao seu modelo baseado em alto volume, baixa durabilidade e marketing agressivo.
Essa diferenciação provocou reações divergentes: para os autores da lei, trata-se de uma forma de proteger o setor têxtil europeu. Já para grupos ambientais, a medida falha ao aliviar a pressão sobre grandes marcas ocidentais que também contribuem significativamente para os impactos ambientais da moda.
Penalidades previstas e critérios ambientais
A proposta de lei estabelece penalidades financeiras para empresas que não atenderem a certos critérios ecológicos até 2030. As multas poderão chegar a 10 euros por peça ou até 50% do valor de venda (sem impostos), criando uma pressão real para mudanças no modelo de produção e comercialização dessas marcas.
Além disso, a legislação prevê a criação de indicadores de sustentabilidade e exige transparência nos processos produtivos. A expectativa é que isso force uma transformação nos bastidores da indústria, promovendo materiais recicláveis, redução de emissões e melhores condições de trabalho nas fábricas terceirizadas.
Impactos econômicos para o setor francês
A concorrência desleal com produtos de preço ultrabaixo tem afetado diretamente marcas francesas. Algumas, como Jennyfer e NafNaf, enfrentam processos de falência e recuperação judicial, respectivamente, sinalizando um cenário instável para o varejo nacional diante do crescimento das gigantes chinesas.
Ao proteger o setor europeu, a nova lei também tenta preservar empregos locais e fomentar uma moda mais ética. No entanto, críticos alertam que, sem uma política ampla de incentivo à inovação e adaptação digital, marcas tradicionais podem continuar perdendo espaço mesmo com a regulação.
Reações das plataformas e próximos passos legislativos
Shein, uma das principais empresas citadas pela lei, contestou publicamente a proposta, alegando que seu modelo de negócios seria parte da solução, e não do problema. A companhia afirma adotar produção sob demanda para evitar estoques excessivos e desperdício, embora organizações ambientais contestem essa narrativa.
Antes de sua implementação definitiva, a lei ainda precisa passar por uma fase de conciliação entre as duas casas legislativas e receber notificação formal à Comissão Europeia. Esse processo garantirá que a legislação esteja em conformidade com as diretrizes da União Europeia e não infrinja regras de livre mercado.
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Um novo modelo de consumo e o futuro da moda
Mais do que restringir práticas abusivas, a proposta francesa abre espaço para uma discussão mais ampla sobre o futuro do consumo de moda. Incentivar uma relação mais consciente com o vestuário, promovendo durabilidade e design atemporal, é uma resposta ao esgotamento do modelo atual baseado em volume e velocidade.
A medida também pode inspirar outros países da União Europeia a seguir caminhos semelhantes, estabelecendo um novo padrão de regulamentação para a indústria da moda no continente. A esperança é que, ao combinar legislação, educação e inovação, seja possível construir um mercado têxtil mais sustentável e equilibrado.
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