A prestigiada marca italiana de cashmere Loro Piana, controlada pelo grupo LVMH, foi colocada sob administração judicial na Itália por um ano. A decisão foi tomada após um tribunal de Milão identificar indícios de exploração de trabalhadores e negligência na supervisão da cadeia de fornecimento da empresa.
O caso, que repercute intensamente no setor de luxo, é o mais recente de uma série de processos envolvendo grandes marcas de moda que enfrentam acusações semelhantes desde 2023. A Loro Piana agora se junta a nomes como Dior, Valentino, Armani e Alviero Martini, que também foram alvo da justiça italiana por práticas irregulares com fornecedores.

Decisão judicial abala reputação do luxo italiano
Segundo a sentença de 26 páginas analisada pela Reuters, a Loro Piana terceirizou sua produção por meio de duas empresas de fachada, sem capacidade real de fabricação, que repassaram as encomendas para oficinas de propriedade chinesa em território italiano. Nessas oficinas, os trabalhadores eram submetidos a condições abusivas.
O tribunal concluiu que a marca “falhou de forma culposa” ao não fiscalizar adequadamente seus fornecedores, priorizando a maximização dos lucros. Com isso, determinou a nomeação de um administrador externo para garantir que a empresa se alinhe às exigências legais relacionadas à gestão da cadeia de suprimentos.
Omissão apesar dos acordos setoriais
A sentença ressaltou que a cadeia produtiva da Loro Piana continuou operando mesmo após o setor de moda da Itália ter firmado, em maio, um acordo com autoridades legais e políticas para combater a exploração trabalhista. O descumprimento do compromisso reforça a percepção de que ainda há negligência estrutural no setor.
Embora a Loro Piana Spa não esteja diretamente sendo investigada criminalmente, os donos das empresas contratadas e subcontratadas enfrentam acusações formais por exploração de mão de obra e contratação de trabalhadores não registrados. O caso evidencia uma prática considerada “generalizada e consolidada” no setor têxtil italiano, segundo os promotores.

Denúncia partiu de trabalhador agredido
A investigação teve início após a prisão de um empresário chinês, dono de uma das oficinas envolvidas, localizada na periferia de Milão. O empregador foi denunciado por um funcionário, que relatou ter sido agredido ao cobrar o pagamento de €10 mil em salários atrasados. A agressão resultou em ferimentos que demandaram 45 dias de tratamento.
Durante a inspeção, a polícia encontrou 10 trabalhadores chineses na oficina, sendo cinco imigrantes ilegais. Eles produziam casacos de cashmere com a marca Loro Piana, recebiam apenas €4 por hora e chegavam a trabalhar 90 horas semanais, sete dias por semana. Além disso, dormiam em instalações improvisadas dentro da própria fábrica, em condições ilegais.
Intermediárias lucravam, enquanto trabalhadores eram explorados
A apuração revelou que uma das empresas intermediárias produzia de 6.000 a 7.000 jaquetas por ano para a Loro Piana, cobrando entre €118 e €128 por peça, dependendo da quantidade do pedido. Em contraste, os preços dos mesmos casacos no site da marca variam entre €3.000 e €5.000.
No total, 21 trabalhadores foram identificados nas inspeções, sendo 10 sem registro formal e sete em situação imigratória irregular. A polícia aplicou multas superiores a €240 mil e fechou duas das fábricas envolvidas, além de identificar uma terceira empresa como sendo apenas de fachada, sem capacidade produtiva real.
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Luxo em xeque: desafios para o futuro da moda italiana
A Loro Piana foi adquirida pela LVMH em 2013, quando o conglomerado francês comprou 80% da empresa, mantendo os 20% restantes com a família fundadora. Desde então, a marca é considerada um dos ícones da sofisticação e do artesanato italiano dentro do portfólio da LVMH.
A administração judicial poderá ser encerrada antes do prazo, caso a empresa se adeque integralmente às exigências legais, assim como ocorreu com Dior, Armani e Alviero Martini. O episódio, no entanto, lança luz sobre os dilemas enfrentados pela indústria do luxo, que precisa conciliar excelência estética com responsabilidade social em toda a cadeia produtiva.
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