Martine Rose SS26 segue desafiando os códigos convencionais da moda na coleção Primavera/Verão 2026, apresentada no bairro de Lisson Grove, em Londres. A designer transformou o antigo Job Centre em uma espécie de mercado retrô, convidando vendedores e criando uma ambientação que presta homenagem às suas memórias de infância no Kensington Market, famoso pela mistura de estilos, subculturas e experimentações.
A coleção reforça o DNA da marca: uma fusão do esportivo com o formal, do masculino com o feminino, do urbano com o teatral. Com perucas volumosas, modelos desfilaram entre cortinas pesadas, evocando uma estética entre o kitsch e o sofisticado. A ambientação deu o tom para peças que vão do sportswear com pegada vintage ao denim estampado, passando por alfaiataria desconstruída, boxers com renda e casacos oversized.



A infância londrina como fio condutor estético
A SS26 de Martine Rose é profundamente pessoal. A ambientação em forma de mercado presta tributo aos dias que a estilista passava no Kensington Market nos anos 80, cercada de referências excêntricas que marcaram sua formação criativa. Ao trazer esse universo à passarela, ela evoca não só nostalgia, mas uma crítica contemporânea ao consumo, à identidade e ao estilo como linguagem social.
As peças combinam códigos que dialogam diretamente com esse imaginário. Um dos looks mais comentados trouxe blazer com ombreiras marcantes, boxers xadrez com acabamento em renda e meias de futebol combinadas com mocassins. Um contraste entre o escritório e a balada, entre o normcore e o desejo, entre o ordinário e o teatral, exatamente onde Martine Rose constrói sua assinatura.
Silhuetas distorcidas e provocação visual
A coleção apresenta uma paleta de cores vibrantes e formas inusitadas. Um look com polo esportivo rosa-choque escrito “Total Participation”, combinado com jeans desbotado e estampa retrô technicolor, sintetiza bem esse espírito. Já o poncho sintético em proporções infladas e o casaco puffer justo na cintura exploram o volume como ferramenta de ironia e distorção.
Essa manipulação de formas e materiais segue como marca registrada da estilista. A tensão entre sobriedade e exagero, entre peça funcional e comentário estético, aparece como recurso para provocar o olhar, e desafiar a expectativa sobre o que é considerado “usável”.
Do esporte à subversão: o vocabulário visual de Martine Rose
Mais do que apropriar-se da estética esportiva, Martine Rose a subverte. As camisetas regatas com frases gráficas, os shorts de couro, as jaquetas de performance e os tricôs com inspiração oitentista não aparecem como referências diretas, mas como fragmentos reorganizados por uma lógica própria. Ela cria novos contextos para roupas que já conhecemos, ressignificando seu uso e sua potência cultural.
Ao fazer isso, a designer dialoga com temas como masculinidade, desejo, classe e performatividade. Em sua moda, um uniforme de futebol pode ser tão sensual quanto um blazer de alfaiataria; um boxer pode carregar tanta delicadeza quanto uma saia plissada. Tudo depende de como se combina, e do que se quer provocar.
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Martine Rose SS26: reafirma o espaço da designer como voz radical na moda britânica
A coleção SS26 reforça o lugar de Martine Rose como uma das estilistas mais importantes da cena britânica atual. Sua habilidade de transformar o comum em provocativo, o nostálgico em político, mantém sua linguagem viva e constantemente em reinvenção. Não se trata apenas de roupas, mas de narrativas visuais complexas que falam de identidade, memória e humor ácido.
Enquanto muitos designers apostam em neutralidade estética, Martine escolhe o exagero e a fricção. Seu desfile é tanto uma vitrine quanto um manifesto: um espaço onde o absurdo encontra o sofisticado e onde cada look conta uma história, desconfortável, divertida e absolutamente contemporânea.
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