O Brasil perdeu nesta sexta-feira (23) um de seus maiores artistas visuais: Sebastião Salgado, fotógrafo mineiro de renome internacional, morreu aos 81 anos em Paris. A informação foi confirmada pelo Instituto Terra, organização ambiental fundada por ele e sua esposa, Lélia Wanick Salgado. A causa da morte foi uma leucemia agravada por complicações de uma forma rara de malária contraída em 2010.
Salgado construiu uma carreira marcada pela sensibilidade com que retratava temas sociais e ambientais. Com olhar profundamente humanista, percorreu mais de cem países ao longo de cinco décadas, documentando populações marginalizadas, conflitos armados, condições de trabalho e, mais recentemente, a riqueza natural e cultural da Amazônia. Sua fotografia era mais que imagem: era uma denúncia e, ao mesmo tempo, um gesto de preservação.
A fotografia como linguagem e missão de vida
Para Sebastião Salgado, a fotografia não era apenas um ofício, era sua forma de existir no mundo. “Fotografia é a minha vida, o que penso, acredito, amo. Está tudo dentro dela”, declarou em entrevista à CNN em 2022. Seu trabalho sempre esteve a serviço de algo maior: a justiça social, a memória coletiva e a conservação ambiental.
Essa visão ficou ainda mais clara nos projetos de longa duração que marcaram sua trajetória, como Trabalhadores, Êxodos, Gênesis e Amazônia. Cada um desses ensaios fotográficos exigiu anos de dedicação e imersão nos temas escolhidos. Ao lado de Lélia, com quem também colaborava criativamente, Salgado conseguiu fazer da imagem uma plataforma de consciência global.
Cannes, cinema e reconhecimento internacional
O impacto de Sebastião Salgado também chegou ao cinema. Em 2014, o documentário O Sal da Terra, codirigido por seu filho Juliano Ribeiro Salgado e pelo alemão Wim Wenders, foi premiado no Festival de Cannes e indicado ao Oscar de Melhor Documentário. O filme apresentou ao mundo a dimensão humana e política por trás de suas imagens.
Ao ser celebrado em Cannes, Salgado uniu sua arte à tradição audiovisual do Brasil no festival, que também conta com nomes como Kleber Mendonça Filho e Karim Aïnouz. Sua presença no cinema reafirma que sua obra ultrapassou o campo da fotografia e se transformou em linguagem universal sobre humanidade, pertencimento e futuro.
A Amazônia como território de resistência e inspiração
Um dos últimos grandes projetos de Sebastião Salgado foi o livro e a exposição Amazônia, lançados em 2021 após sete anos de imersão na floresta e em suas comunidades. O trabalho, apresentado em cidades como Paris, Roma, Londres e São Paulo, reuniu 194 imagens acompanhadas de uma trilha sonora de Jean-Michel Jarre, criando uma experiência sensorial que aproximava o público da maior floresta tropical do mundo.
Segundo Salgado, a Amazônia representa a maior diversidade cultural do planeta, com mais de 180 línguas e culturas indígenas. Ao revisitar a região após décadas, ele denunciou a predação acelerada do território e decidiu dedicar parte de sua vida a documentar sua beleza e urgência. A floresta, para ele, era tanto um espaço de encantamento quanto de alerta global.
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Instituto Terra e o legado da restauração
Muito além das câmeras, o legado de Sebastião Salgado se concretiza no Instituto Terra, fundado com Lélia Wanick em Aimorés, Minas Gerais. A organização já plantou mais de 3 milhões de árvores em um projeto exemplar de restauração ambiental e educação ecológica, mostrando que a fotografia também pode gerar ação direta.
O Instituto reflete os mesmos valores de sua obra: regeneração, pertencimento e respeito aos ciclos da natureza. A atuação de Salgado continuará viva não só nas imagens que capturou, mas nos hectares reflorestados, nas pessoas impactadas e nas futuras gerações que poderão viver em um planeta um pouco mais justo, por causa de seu olhar.
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