Em 2025, o fotógrafo e cineasta Klaus Mitteldorf completa cinco décadas de trajetória e apresenta a exposição MMXXV, um recorte potente de seu universo visual. Com curadoria de Rubens Fernandes Junior, a mostra reúne cerca de 100 imagens que sintetizam um olhar inquieto, experimental e radicalmente autoral. Um repertório construído ao longo de uma vida dedicada à imagem.
A exposição marca o encerramento de um ciclo criativo do artista, que passa a voltar-se com mais intensidade ao cinema. Mais que um balanço, MMXXV devolve ao público um conjunto de séries inéditas e recentes, além de trabalhos que foram revisitados e ressignificados, compondo uma cartografia afetiva das últimas décadas.
Livro homônimo e processo de revisão na pandemia
O projeto chega acompanhado do livro MMXXV, resultado de uma revisão exaustiva do acervo realizada durante os anos de Pandemia. Nesse período, Klaus Mitteldorf mergulhou em arquivos, criou sobreposições, texturas e fusões digitais, exercitando novas camadas de sentido para imagens históricas e contemporâneas; no livro, essa lógica de sequência e sobreposição é traduzida em soluções gráficas que dialogam com o processo de revisão.
O editorial do livro foi desenvolvido em parceria com Marcos Pereira de Almeida (CJ31 Design&Branding), enquanto o Estúdio 321 assinou o tratamento de imagem. O resultado é um objeto gráfico que expande o percurso da exposição e reforça a fotografia como campo de liberdade e reinvenção, prolongando a experiência para além da visita e registrando o método de seleção e reconfiguração do artista.
Séries e pesquisa: do “Game Over” às novas investigações
Aos 72 anos, depois de levar seu primeiro longa, VOU NADAR ATÉ VOCÊ, ao Festival de Gramado (2019), Klaus Mitteldorf anuncia o fechamento desta fase com a série Game Over. Ao mesmo tempo, apresenta séries inéditas como Pandemia, Entre Espelhos e Identidades, que articulam memória, corpo e tecnologia de maneira visceral.
Essa combinação de arquivo, reprocessamento digital e experimentos formais dá corpo a um vocabulário que atravessa décadas sem perder ímpeto. Em MMXXV, as séries se interpenetram, deixando ver o trânsito do artista entre o documento e a ficção, entre a superfície fotográfica e a matéria do cinema.
Curadoria e montagem: ritmos, fricções e contraluces
A curadoria de Rubens Fernandes Junior encadeia séries e épocas em um percurso que privilegia fricções e contraluces, realçando o modo como cada imagem conversa com a seguinte. Em vez de hierarquizar técnicas ou períodos, o arranjo propõe atravessamentos que fazem o visitante reconhecer continuidades e rupturas no próprio gesto fotográfico de Klaus Mitteldorf.
No espaço expositivo, a escala e a cadência dos trabalhos convidam à apreciação demorada. A montagem opera como partitura: silêncio e suspensão em certos núcleos, densidade e fluxo em outros, sempre preservando margem para que as obras apresentem suas camadas de leitura sem mediações excessivas.
Trajetória: pioneirismo, livros e exposições
Reconhecido como um dos nomes mais provocativos da fotografia brasileira, Klaus foi pioneiro nos registros de surfe e skate nos anos 1970. Ao longo da carreira, publicou 16 livros e realizou inúmeras exposições individuais e coletivas em instituições como MASP, MAM, Pinacoteca do Estado de São Paulo, MAB FAAP e Museu Ludwig de Colônia (Alemanha).
Essa trajetória ajuda a compreender a densidade de MMXXV: em vez de retrospectiva literal, a mostra trabalha o presente do olhar, tensionando contextos, materiais e temporalidades. O recorte evidencia um artista que transforma passagens pessoais em gramáticas visuais de ampla ressonância pública.
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Serviço e informações práticas
A apresentação integra a programação da SP-Arte Rotas 2025 no Espaço Carcara Photo Art, no dia 28/08/2025, das 13h às 20h. O local é a ARCA (Av. Manuel Bandeira, 360, São Paulo), reunindo público, artistas e curadores em torno de uma experiência que combina memória, experimentação e encontro.
Para quem acompanha o percurso de Klaus Mitteldorf, MMXXV funciona como rito de passagem: celebra cinquenta anos de criação e, simultaneamente, aponta para o cinema como próximo território de exploração. Uma oportunidade rara de ver condensadas as forças que moldam sua obra e os caminhos que se abrem a partir dela.
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