O Museu do Louvre, um dos pontos turísticos mais visitados do mundo, manteve suas portas fechadas na manhã da última segunda-feira, 16, em protesto contra os efeitos do overtourism, termo usado para descrever o impacto negativo do excesso de visitantes em destinos populares. A paralisação, organizada de forma repentina pelos próprios funcionários, surpreendeu milhares de turistas que aguardavam sob o sol de Paris.
A medida reflete uma preocupação crescente entre trabalhadores e gestores culturais na Europa. Segundo o sindicato CGT-Culture, que representa parte da equipe do museu, o número de visitantes tem ultrapassado a capacidade da instituição, provocando sobrecarga de trabalho, dificuldades operacionais e um ambiente que vem se tornando “insustentável” para os profissionais que atuam no local.
Louvre se junta a protestos contra o turismo de massa em cidades históricas
O fechamento do Louvre faz parte de uma onda de manifestações que tem se espalhado por cidades do sul da Europa, como Veneza, Lisboa e Maiorca, onde moradores e instituições culturais denunciam o esgotamento de infraestrutura causado pelo fluxo turístico excessivo. Entre as reclamações mais recorrentes estão o aumento no custo de vida, a descaracterização de bairros históricos e a pressão sobre serviços públicos e culturais.
No caso do Louvre, o sindicato afirma que o museu, que chegou a registrar mais de 30 mil visitantes em um único dia, precisa de uma resposta urgente para reorganizar seus fluxos de entrada, ampliar a equipe e garantir a segurança tanto de seus trabalhadores quanto do acervo. Embora as atividades tenham sido retomadas na tarde do mesmo dia, o protesto deixa um alerta sobre os limites do turismo cultural contemporâneo.
Plano de renovação ambicioso existe, mas sindicato cobra medidas imediatas
Em janeiro deste ano, o presidente francês Emmanuel Macron anunciou um plano ambicioso para o Louvre, com orçamento estimado em 800 milhões de euros. O projeto prevê reformas estruturais ao longo de uma década, incluindo uma nova entrada para o museu, controle climático das salas, melhorias na acessibilidade e no fluxo de visitantes. A proposta, no entanto, é considerada lenta demais pelos trabalhadores.
“Não podemos esperar seis anos para receber ajuda”, afirmou Sarah Sefian, representante sindical. Para o grupo, é necessário reforço imediato na equipe, redistribuição dos fluxos de entrada e revisão da estratégia de acolhimento, antes que os problemas atuais comprometam ainda mais o funcionamento do museu.
Turistas frustrados, mas compreensão cresce diante do apelo por qualidade de trabalho
A paralisação de algumas horas foi suficiente para gerar longas filas, revolta em parte dos visitantes e movimentações nas redes sociais. Ainda assim, muitos dos que esperavam do lado de fora demonstraram empatia ao entenderem a dimensão da crise enfrentada pelos funcionários. O episódio também reacende o debate sobre os limites do turismo em espaços de preservação e sobre o equilíbrio entre experiência cultural e condições de trabalho.
A crescente visibilidade de protestos como esse coloca em xeque o atual modelo de exploração turística dos grandes museus e patrimônios históricos, convidando governos e instituições a repensarem sua gestão a médio e longo prazo.
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Pressão global por um turismo mais consciente
A situação no Louvre não é isolada. Museus, centros históricos e atrações ao redor do mundo têm enfrentado desafios semelhantes, à medida que o turismo internacional volta a crescer em ritmo acelerado no pós-pandemia. O debate sobre o turismo sustentável entra em cena com mais força, levantando questões sobre limite de visitas, bilhetes com agendamento, reforço de equipes e medidas de preservação patrimonial.
Para o Louvre, que recebe milhões de pessoas por ano e abriga algumas das obras mais importantes da história da arte, o equilíbrio entre visibilidade e preservação será um dos principais desafios da próxima década. Enquanto o plano de reformas avança, os protestos deixam claro: o futuro do museu depende de medidas mais imediatas e de um diálogo transparente com aqueles que o mantêm vivo todos os dias.
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