Exposição e performance marcam o início de um ciclo de sete capítulos que investiga domesticidade, poder e identidade no espaço íntimo.

A estreia de Bianca Censori BIO POP marca a entrada oficial da artista no circuito internacional de arte contemporânea. Realizada em Seul, na Coreia do Sul, a performance e exposição apresentadas nos dias 11 e 12 de dezembro inauguram um projeto ambicioso, dividido em sete capítulos que serão revelados ao longo dos próximos sete anos.
Australiana de origem italiana, Bianca Censori é uma artista e arquiteta formada. Em BIO POP, ela cruza essas duas linguagens para investigar temas como domesticidade, intimidade e identidade. A obra se constrói a partir de gestos cotidianos, objetos comuns e corpos moldados pelo espaço, propondo uma reflexão direta sobre onde o comportamento é aprendido e o poder é normalizado.
Desde sua apresentação inicial, Bianca Censori BIO POP tem gerado debate ao tensionar os limites entre o íntimo e o público, o ritual doméstico e a performance artística.

O que é Bianca Censori BIO POP
Bianca Censori BIO POP é a primeira etapa de uma série performática concebida como um ciclo de longo prazo. O projeto parte da ideia de que a casa é o primeiro sistema social que habitamos e, portanto, o ponto inicial de formação de comportamentos, hierarquias e expectativas.
Durante a performance, Censori, vestida em látex e salto alto, executa a ação de assar um bolo. O gesto é realizado de forma lenta e precisa, quase cerimonial. O bolo, ao invés de servir como alimento, é oferecido a figuras humanas esculpidas que se confundem com o mobiliário, corpos que se dobram até se tornarem parte do ambiente.
A cena transforma tarefas associadas ao cuidado em um comentário visual sobre repetição, disciplina e adaptação.

A cozinha como espaço simbólico
Um dos aspectos centrais de Bianca Censori BIO POP é a escolha da cozinha como cenário principal. Para a artista, esse ambiente concentra a interseção entre cuidado, trabalho e expectativa social. Assar um bolo, nesse contexto, deixa de ser um ato benigno e passa a representar um trabalho ritualizado, estrutural e silencioso.
A performance sugere que esses rituais domésticos moldam o corpo antes mesmo da entrada na vida pública. A identidade social, nesse sentido, seria apenas a extensão de comportamentos aprendidos no espaço privado.
Ao deslocar esse gesto para um ambiente expositivo, Censori torna visível uma dinâmica que normalmente permanece invisível.
Nota da redação
Bianca Censori BIO POP não é descrita pela artista como autobiográfica, mas como um exercício de observação sobre estruturas sociais reproduzidas dentro do lar.

Corpos que se adaptam ao espaço
Outro elemento-chave de Bianca Censori BIO POP são os “clones” humanos que ocupam o cenário. Essas figuras aparecem fisicamente contorcidas, ajustando seus corpos a móveis e superfícies que não foram pensados para acomodá-los.
Segundo a artista, esses corpos representam adaptação e resistência. São imagens de um corpo que aprende a se moldar a sistemas que não o consideram. A arquitetura, nesse caso, não é apenas física, mas simbólica: trata-se de estruturas sociais que exigem conformidade.
O corpo deixa de ser sujeito e passa a funcionar como extensão do objeto, reforçando a crítica à naturalização dessas dinâmicas.

Domesticidade como arquitetura da identidade
Com formação em arquitetura, Bianca Censori traz para BIO POP uma leitura espacial da construção do eu. A domesticidade aparece como uma espécie de planta baixa da identidade, onde padrões são ensinados, repetidos e internalizados.
Em entrevistas, a artista afirma que o trabalho não parte de experiências pessoais diretas, mas de observação. A casa surge como um sistema primário de poder, anterior à cultura, ao trabalho e à vida coletiva.
Essa perspectiva conecta o projeto a discussões contemporâneas sobre gênero, trabalho invisível e performatividade social, sem recorrer a narrativas explícitas ou didáticas.

O início de um ciclo de sete anos
Bianca Censori BIO POP é descrita como o ponto de origem de um ciclo maior. A artista planeja desenvolver sete capítulos ao longo de sete anos, expandindo o foco da domesticidade para outros sistemas sociais.
A proposta é partir do espaço íntimo e avançar gradualmente em direção à cultura e à vida coletiva. Cada etapa deve aprofundar essa investigação sobre como estruturas moldam corpos, comportamentos e identidades.
A estreia em Seul estabelece o tom conceitual do projeto e posiciona Censori como um nome atento às tensões entre arte, corpo e arquitetura social.
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O impacto de Bianca Censori BIO POP no debate artístico
Com BIO POP, Bianca Censori apresenta uma obra que dialoga com performance art, escultura viva e crítica social. A escolha por ações simples, executadas com rigor visual, cria uma experiência de imersão que provoca mais perguntas do que respostas.
Bianca Censori BIO POP se destaca por transformar o cotidiano em linguagem artística e por tratar a domesticidade não como cenário neutro, mas como campo político. A obra sugere que aquilo que parece íntimo e banal é, muitas vezes, onde se originam as estruturas mais duradouras de poder.
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