Na capital da Dinamarca, a CPHFW mostrou que é possível ter uma semana de moda voltada para pauta ESG, mantendo o frenesi das tendências de consumo
Mesmo não sendo considerada uma das capitais principais da moda, a Copenhagen Fashion Week conquistou, definitivamente, seu espaço, mas não por apresentações suntuosas, como estamos acostumados a ver em Paris, Milão, Londres e Nova York, que estão entre as mais cobiçadas pelos amantes da arte.
De 7 ao dia 11 de agosto, o evento apresentou diversas marcas pouco conhecidas do mainstream fashion, porém, o que mais diferencia esta das outras Fashion Weeks é a pauta ambiental. Para quem não sabe, a indústria da moda é uma das mais poluentes do mundo (há quem diga que está no top 5), e, na era do Fast Fashion, o assunto ESG, de Enviroment Social Governance, está sendo muito debatido e combatido.
Marcas para conhecer e prestar atenção!
STINE GOYA
Desde 2006, a designer dinamarquesa Stine Goya tem uma trajetória na moda baseada muito em sua estamparia autoral e muito delicada. Para o desfile desta edição, a marca veio com sua atemporalidade voltada para a alfaiataria, muito inspirada na cosmopolita Londres, lugar escolhido para expandir sua operação.
Desta forma, a coleção chamada Homecoming é um retorno da estilista às origens, ao conforto, ao confiável, com silhuetas ora estruturadas, ora mais fluidas. Além disso, assimetrias, mangas bufantes, barras alongadas e bolsos, muitos bolsos surgiram na apresentação, com destaque para saias e calças cargo.
THE GARMENT
A coleção primaveril de Charlotte Eskildsen e Sophia Roe refletiram sobre o esteriotipo da roupa de trabalho, num momento-chave sobre a discussão do home office. A The Garment crusou essa ideia do mercado com a moda, em peças utilitárias disruptivas, com mesclas entre o que é considerado masculino e feminino.
Destaque para as peças em crochê e renda, os casacos alongados e a paleta de cores sóbrias, com o azul e o caramelo dando leveza com o preto.
LATIMMIER
Erwin Latimier participou do programa Copenhagen Fashion Week’s New Talent, que abre espaço para novos estilistas, e a apresentação na CPHFW foi uma passada em vários momentos seus dentro do projeto. Ou seja, uma história pessoal contada em peças estruturadas e desconstruídas, quase um ‘tudo em todo lugar ao mesmo tempo’.
Porém, o filme que inspirou mesmo o designer foi o Lobo de Wall Street, com uma análise de como os homens entendem o poder por meio da vestimenta e como essas ideias não são reais. Com ternos encapsulados, peças oversized com canetas penduradas e até camisas rasgadas simbolizaram essa reflexão sobre masculinidade e o universo fashion.
SAKS POTTS
Com peças já circulando entre famosas como Kylie Jenner e Lily Rose Depp, a Saks Potts, das designers Barbara Potts e Cathrine Saks, apresentou peças de swimwear misturadas ao ready-to-wear mais descontraído, com bastante couro e outras texturas.
Saias plissadas e peças e acessórios metalizados levaram os olhares dos convidados para um universo praiano lúdico e futurista, com biquinis e casacos juntos, chinelos e vestidos de seda no styling e outros pares equilibrando os pesos.
Outros destaques
Além dessas, temos a Rolf Ekroth, com sua estética cheia de rosas e nostalgia, com uma narrativa de décadas, como sua juventude nos anos 1990, as memórias de seus pais nos anos 1960, e o começo da família, com seus avós nos anos 1930; a Baum Und Pferdgarten, com muitas cores vibrantes e estampas não tão usuais; Rains, com peças feitas com tecidos impermeáveis; e a GESTUZ, que se apresenta sexy, urbana e até esportiva, com silhuetas bem marcadas e um apelo mais noturno.
Mudança de gestão: Cecilie Thorsmark
A CPHFW existe desde 2006, mas, foi em 2018, com a chegada de uma nova CEO, que a semana ganhou um novo rumo sustentável. A executiva Cecilie Thorsmark trouxe normas sustentáveis mais rígidas para as grifes que se apresentam, e, com isso, muita coisa mudou! O ‘serviço ambiental’ de Cecilie não é de hoje, pois ela foi, por muito tempo, diretora de comunicação da Global Fashion Agenda, plataforma que visa uma Moda de impacto positivo, com sede em Copenhagen.
Em 2020, ela inovou no mercado ao anunciar o programa “Reinventing Copenhagen Fashion Week”, que visa estabelecer estratégias e práticas sustentáveis na Semana de Moda emergente de maior potencial do mundo. E, cá entre nós, tem surtido efeito!
Legal… Mas, na prática, como funciona?
Nos cinco dias da Copenhagen Fashion Week, além dos desfiles das marcas autorais e relativamente novas no mercado, há uma programação extensa que inclui talks, apresentações e feiras, com uma abordagem macro mais holística e atual para a moda. E isso é muito importante, já que, com a fama, o conteúdo desses dias está sendo disseminado por mais pessoas.
E, na questão ‘mão na massa’, as marcas têm que seguir um código de conduta rídico, com a inclusão de várias áreas, não só a ambiental. Para estar na CPHFW, as mudanças acontecem desde o começo da coleção, com algumas diretrizes quanto à produção, compra de materiais; passando pela segurança do ambiente de trabalho; até o consumidor final, como a utilização de uma grade de tamanhos inclusiva.
Conteúdo? Temos, e muito!
Nos intervalos, palestras mantêm os convidados com a mente ativa, e, para a programação de 2023, a semana de moda trouxe talks cujos temas foram “Cultivating Digital Communities in Fashion”, “Leading The Future: The Role of the Emerging Designer”, e “The Value of Craft in Fashion’s Future of Transparency and Methods & Materials: Innovations in Fashion.” Para a imprensa especializada, a Copenhagen Fashion Week promete alçar voos maiores e necessários, pois precisamos falar e fazer mais sobre a poluição do planeta e a melhora da nossa saúde mental, com uma moda mais consciente.