Rick Owens acaba de receber uma grande homenagem com a estreia de uma retrospectiva no Palais Galliera, em Paris. A mostra apresenta não apenas os momentos mais marcantes de sua carreira, mas também mergulha profundamente em sua estética provocativa, sua construção de moda com referências esculturais e sua trajetória de décadas entre Hollywood e a capital francesa.
O designer, conhecido por desafiar convenções com uma mistura entre glamour sombrio e transgressão visual, revelou que nunca imaginou ir tão longe. “Queria ser apenas uma nota excêntrica na história da moda”, confessou. No entanto, seu trabalho encontrou espaço entre o mainstream e o experimental, conquistando espaço permanente no imaginário fashion internacional.
Uma exposição que une técnica, arte e provocação
A exposição “Temple of Love”, nomeada a partir de uma música da banda Sisters of Mercy, ocupa vários espaços do museu com criações que vão desde vestidos de alta-costura até instalações de teor erótico. Um dos ambientes, informalmente apelidado pelo próprio Owens de “capela do xixi”, reúne elementos provocativos como uma estátua em tamanho real do estilista urinando.
O curador Alexandre Samson, responsável pela seleção, descreve a mostra como uma celebração dos extremos de Rick Owens, do decadente ao sublime. A cenografia inclui estruturas em feltro inspiradas na represa Hoover, esculturas brutalistas, manequins cobertos por lantejoulas marrons e até escovas de dentes de pelo de javali desenvolvidas em parceria com a marca sueca Selahatin.
O universo pessoal de Rick Owens
Entre as instalações mais emocionantes está a reprodução do quarto modesto que o designer dividia com sua esposa e musa Michèle Lamy nos anos iniciais em Los Angeles. Além disso, o público pode assistir a um vídeo de uma hora, no qual Owens modela uma peça masculina a partir de shearling e moletom, uma homenagem à sua prática artesanal.
Também estão presentes criações impactantes como capas esculpidas, vestidos que evocam arquitetura futurista, peças feitas com couro de peixe e tops bordados com miçangas que lembram o trabalho de Frank Gehry. Owens conduz o visitante por sua visão do mundo, ao mesmo tempo crítica, poética e subversiva.
Inspirações, transgressões e legado
A mostra destaca as referências constantes do estilista: o glamour dos anos 1930, o expressionismo alemão, o cinema bíblico de Cecil B. DeMille, a arte Jugendstil e figuras underground como Goddess Bunny e Courtney Love. A cantora, inclusive, escreveu um tributo para o catálogo da exposição, elogiando a lógica por trás do caos criativo de Owens.
O estilista vê a transgressão como parte essencial de seu trabalho: “É a minha forma de protestar contra o moralismo rígido do mundo”. Ele lembra com carinho do impacto que a capa do álbum Diamond Dogs, de David Bowie, teve sobre ele na adolescência, oferecendo uma visão de “glamour grotesco” com a qual finalmente se identificava.
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Mais do que provocação: qualidade e permanência
Apesar de ser amplamente reconhecido por suas atitudes radicais, Owens ressalta que sua longevidade se deve à sofisticação e qualidade de suas criações. “Se fosse só provocação, eu não teria durado tanto”, afirmou. A mostra equilibra peças dramáticas, como jaquetas estruturadas e vestidos esculturais, com um olhar apurado sobre o fazer artesanal.
Com mais de 100 looks em exibição, a retrospectiva também inclui designs de sua fase inicial em Hollywood, onde ele explorava tecidos em decomposição, até coleções atuais com silhuetas precisas e refinadas. A consistência estética e a fidelidade a seus valores fizeram de Owens uma figura admirada tanto por fashionistas quanto por outsiders.
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