A Semana de Alta-Costura de Paris começa hoje com mudanças importantes no ar. O evento marca a estreia de Glenn Martens na Maison Margiela, após a saída de John Galliano, enquanto Demna se despede da Balenciaga rumo à Gucci. A Chanel também vive uma transição, apresentando sua última coleção feita pela equipe interna antes da chegada de Matthieu Blazy.
O calendário traz ausências de peso como Dior, Gaultier e Valentino, cada uma reestruturando suas estratégias para a alta-costura. Já Jonathan Anderson, novo diretor criativo da Dior, só assume em janeiro de 2026.
O desfile mais aguardado da semana é o de Martens para a Margiela, marcado para quarta-feira à noite. Entre os confirmados, Schiaparelli, sob comando de Daniel Roseberry, e Armani Privé, ainda com expectativa sobre a presença de Giorgio Armani após problemas de saúde. O encerramento fica por conta da Germanier, prometendo fechar a temporada com sua visão artística e sustentável.
Paris fashion week alta-costura: Iris van herpen
A estilista holandesa Iris Van Herpen apresentou, nesta segunda-feira, durante a Paris Haute Couture Week, sua mais nova coleção intitulada “Sympoiesis”, uma ode à experimentação, à inovação e à fusão entre moda, ciência e natureza.
Reconhecida por sua abordagem futurista e por ultrapassar os limites tradicionais da alta-costura, Van Herpen reafirma seu DNA artístico com peças criadas a partir de materiais alternativos e altamente tecnológicos, como folhas de banana, grãos de cacau, fibras bio-proteicas e até algas bioluminescentes.
O ponto alto da apresentação foi, sem dúvida, o “vestido vivo”, feito com cerca de 125 milhões de microalgas luminosas, que cintilavam em um azul elétrico profundo. A peça, desenvolvida em parceria com biólogos, foi moldada em uma matriz de nutrientes personalizados, dando vida a um verdadeiro organismo vestível, uma experiência visual que transcendia a roupa e tocava o campo da arte performática.
Outro destaque ficou por conta de dois vestidos de noiva esculturais, sendo um deles confeccionado com uma fibra futurista derivada da fermentação da cana-de-açúcar, completamente biodegradável e recicláve, uma resposta poética e concreta aos desafios ambientais enfrentados pela indústria.
“Sympoiesis” (termo que significa “criação conjunta” ou “cocriação”) não é apenas uma coleção, mas uma filosofia: o convite para repensar nossa relação com o planeta e a moda como uma extensão da vida orgânica. Em um cenário dominado por grandes conglomerados de luxo, Van Herpen segue como uma das poucas vozes independentes da alta-costura, e uma das mais vanguardistas.
Com sua estética etérea e seu compromisso com a sustentabilidade radical, Iris Van Herpen segue transformando roupas em arte viva, reafirmando sua posição como uma das criadoras mais visionárias da atualidade.



Paris fashion week alta-costura: Schiaparelli
O designer Daniel Roseberry surpreendeu novamente com uma apresentação poderosa na Semana de Alta-Costura em Paris. Intitulada “Back to the Future”, a coleção foi um mergulho poético no legado surrealista de Elsa Schiaparelli — reinterpretado com a ousadia e sofisticação que já se tornaram marcas registradas do diretor criativo.
O ponto de partida foram os desenhos dos anos 1930 da própria Elsa, que sempre soube entrelaçar arte, provocação e moda de maneira única. A homenagem veio embalada por um drama visual arrebatador, que se desdobrou em uma paleta monocromática, silhuetas escultóricas e detalhes meticulosos.
Entre os grandes destaques da passarela, estavam os vestidos “invertidos”, que desenhavam o contorno do corpo em negativo, capas ricamente bordadas e um colar de cristais com um coração mecânico que pulsava de verdade — uma cena hipnotizante que viralizou instantaneamente.
A coleção alternou entre momentos de sofisticação clássica e ousadia performática: conjuntos refinados, vestidos com brilho, recortes precisos, transparências milimetricamente posicionadas e volumes dramáticos. Tudo com a assinatura de Roseberry, que sabe equilibrar herança e inovação como poucos.
Talvez nenhuma maison represente melhor o casamento entre arte e moda do que a Schiaparelli.



Paris fashion week alta-costura: rahul mishra
Em sua 11ª participação na Semana de Alta-Costura de Paris, o designer indiano Rahul Mishra voltou a provar por que é um dos nomes mais sensíveis e artísticos da moda contemporânea. Com a coleção intitulada “Becoming Love”, Mishra conduziu o público por uma jornada poética e sensorial inspirada nos sete estágios do amor, uma narrativa simbólica que transcende culturas e séculos.
Cada look foi pensado como um capítulo visual, traduzindo emoções que vão da atração inicial ao êxtase, da devoção ao desapego — refletindo tanto o amor romântico quanto o amor como experiência espiritual e universal.
As criações, como de costume em seu trabalho, eram verdadeiras obras de arte. Vestidos esculturais e etéreos surgiam adornados por bordados minuciosos, flores bordadas à mão, paetês que flutuavam no tecido e estruturas tão complexas quanto leves, que ultrapassavam o conceito de 3D — criando um efeito quase mágico, como se as roupas respirassem emoção em movimento.
Mas mais do que técnica, havia alma. Mishra se apoia em uma herança artesanal indiana riquíssima, que ele apresenta com sofisticação global. As técnicas tradicionais de bordado, como o zardozi e o aari, foram empregadas com uma delicadeza que emocionava — elevando o savoir-faire do subcontinente ao status de alta-costura internacional.
A cartela de cores passeava por tons profundos como azul-marinho, verde esmeralda e vinho, até chegar a dourados e brancos celestiais, representando a progressão emocional da coleção. As formas, ora volumosas e estruturadas, ora fluidas e vaporosas, reforçavam esse contraste entre a intensidade e a leveza do amor.



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