Depois de um período turbulento no mercado, Heron Preston confirmou o relançamento de sua marca homônima com propriedade e comando criativo completos. O anúncio marca a virada de página após anos de instabilidade societária e reforça a ambição do designer de recuperar a essência do projeto que o projetou como um dos nomes centrais do streetwear de luxo na segunda metade da década de 2010. A nova fase nasce com uma promessa clara: voltar às raízes, operar com agilidade e priorizar ideias, não planilhas.
O comunicado, divulgado no Instagram do estilista, veio acompanhado de um tom confessional: ele afirma ter “passado pelo inferno para proteger o que construiu” e que lutou pelo próprio nome, pelo trabalho e pela visão. Agora, de volta com “mais propósito do que nunca”, Preston aponta Nova York como base do recomeço, a cidade onde iniciou sua trajetória e onde pretende reconectar marca, comunidade e energia cultural.

Propriedade recuperada e bastidores da disputa
Fundada em 2017 sob o guarda-chuva do New Guards Group (NGG), a etiqueta de Preston cresceu junto do movimento que mesclou a alta moda com os códigos de rua. A aquisição do NGG pela Farfetch em 2019 e, depois, a transferência do controle para a Coupang em 2023 abriram um ciclo de incertezas. A instabilidade culminou em um pedido de falência do holding no fim de 2024, deixando criadores e equipes em compasso de espera.
Em julho de 2025, após um processo jurídico e comercial prolongado, Preston recomprou integralmente os direitos sobre o próprio nome, legais e comerciais. A medida encerra a fase de dependência de estruturas corporativas e reposiciona a marca como operação independente. O resultado prático: decisões mais rápidas, coerência de linguagem e um calendário criativo que responde primeiro ao produto e ao público.

Criatividade “sem ruído” de investidores externos
Com a casa arrumada, o estilista aponta para uma etapa “livre da influência de investidores externos”. Na prática, isso significa priorizar narrativas e construção de produto sobre metas financeiras de curto prazo. O objetivo é devolver à etiqueta a espontaneidade que fez suas primeiras coleções vibrarem, com peças funcionais, gráficas e socialmente sintonizadas.
Esse retorno à autoria também abre espaço para formatos experimentais: cápsulas menores, drops pontuais e projetos colaborativos com parceiros escolhidos por afinidade criativa, não por conveniência corporativa. A expectativa é de coleções que falem a uma comunidade global, mas com o calor de um estúdio autoral, onde o ritmo é ditado pela ideia certa, no tempo certo.

Nova York como quartel-general e campo de testes
A escolha de Nova York como epicentro é simbólica e estratégica. Foi ali que o designer lapidou sua voz visual e teceu redes com artistas, fotógrafos, músicos e criativos que moldaram a linguagem da marca. Ancorar a operação na cidade é reativar esse ecossistema, do ateliê ao set, da rua à passarela.
Sob uma dinâmica mais enxuta, Nova York também funciona como laboratório de protótipos, testes de caimento e validação com a comunidade. Varejo efêmero, ativações locais e distribuição ágil criam um ciclo de feedback curto: escuta-se o público, ajusta-se o produto, entrega-se relevância.
Legado do streetwear de luxo e evolução do código Heron
Ao lado de contemporâneos como Virgil Abloh, Preston ajudou a pavimentar a ponte entre atelier e asfalto, combinando trabalho gráfico, uniformes reimaginados e pragmatismo funcional. Esse léxico, que marcou a virada de 2016–2020, agora retorna depurado: menos ruído, mais substância.
Espera-se o reencontro com signos que tornaram a marca reconhecível (tipografia incisiva, mensagens utilitárias, paleta industrial, detalhes de alta visibilidade), sem apego nostálgico. O desafio está em traduzi-los ao presente, materiais melhores, cadeias mais responsáveis, caimentos atuais e um discurso que converse com uma geração que exige propósito e longevidade.
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O que vem no relançamento: produto, ritmo e princípios
No curto prazo, o plano é reintroduzir coleções que reflitam o ethos original da etiqueta, atualizadas pelo aprendizado dos últimos anos. Categorização clara por uso (trabalho, cidade, performance leve), construção robusta e storytelling cultural devem guiar as primeiras entregas. A comunicação deve ser direta, com imagens que priorizam função e contexto real de uso.
No médio prazo, a independência abre margem para ampliar escopo: acessórios inteligentes, cápsulas com artistas e iniciativas de circularidade (reparo, reuso, materiais reciclados) que alinhem desejo e responsabilidade. Com o controle total nas mãos, Preston mira um negócio mais enxuto, rentável e fiel à própria assinatura, uma marca autoral que cresce por consistência, não por inércia corporativa.
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