Virgil Abloh redefiniu o papel do designer de moda ao unir arquitetura, música, cultura urbana e marketing com uma visão otimista sobre o futuro. Sua atuação como diretor artístico da Louis Vuitton Masculina, iniciada em 2018, transformou a indústria e rompeu barreiras históricas: foi o primeiro homem negro a liderar a direção criativa da grife francesa em seus 164 anos. Sua morte precoce, aos 41 anos, em 2021, comoveu milhões de pessoas ao redor do mundo.
Agora, a jornalista e crítica de moda premiada Robin Givhan lança o livro “Make It Ours: Crashing the Gates of Culture With Virgil Abloh”, que propõe uma análise mais profunda de sua influência cultural e dos caminhos que trilhou, tanto como criador quanto como símbolo de mudança. Givhan optou por focar os anos mais relevantes de sua trajetória profissional, evitando uma biografia tradicional e centrando-se nos impactos que Virgil causou no mundo da moda e além.

Um criador multidisciplinar movido por otimismo
Formado em arquitetura, Virgil Abloh se destacou por combinar exclusividade com streetwear em uma época em que essa união ainda era incomum. Também DJ, colaborou com Kanye West, Nike, Ikea e fundou a marca Off-White, hoje consolidada no universo do luxo alternativo. Mesmo sem formação técnica em modelagem ou alfaiataria, sua visão era voltada à comunicação, ao estilo de vida e à construção de comunidade.
Segundo Givhan, a história de Virgil é marcada por um otimismo incomum: mesmo frustrando o sistema, ele fazia as pessoas acreditarem em possibilidades. Essa disposição se manifestava tanto na forma como ele pensava suas coleções quanto nas atitudes públicas, como quando jogou um protótipo da Nike para o público durante uma palestra, quebrando protocolos em nome da transparência criativa.

Roupas como linguagem de pertencimento
Givhan conta que, embora fosse crítica frequente das coleções de Virgil Abloh, passou a perceber que a força de seu trabalho não residia necessariamente na roupa em si. Para ele, uma jaqueta college ou uma peça inspirada em Princesa Diana não eram objetos de tendência, mas sim símbolos de pertencimento, comparáveis a uma camisa de time usada por torcedores. Era sobre identidade coletiva, não sobre seguir a moda.
A campanha emocional em torno de sua morte revelou o quanto ele era visto como alguém próximo, quase íntimo, por fãs e colegas. Givhan ficou intrigada com a reação pública intensa, considerando que sua relação com o designer sempre foi estritamente profissional. O que emergiu foi o retrato de um criador que oferecia mais do que estética: ele oferecia acolhimento e representatividade.

Um ícone moldado por mudanças sociais
Givhan destaca que Virgil Abloh só pôde chegar onde chegou graças a mudanças culturais e sociais mais amplas. A ascensão da moda masculina, o poder das redes sociais e o esforço das marcas em se conectar com públicos mais diversos abriram espaço para uma nova geração de criativos. Virgil Abloh, com sua abordagem não convencional, soube canalizar essa nova energia.
A autora também ressalta que ele se apoiava em caminhos já abertos por nomes como Ozwald Boateng e Edward Buchanan, e que seu sucesso não foi construído isoladamente. Ainda assim, sua capacidade de dialogar com públicos marginalizados e mostrar que há outros caminhos possíveis para entrar na indústria é uma de suas maiores conquistas.
“Make It Ours” e o impacto além da moda
Com uma abordagem ensaística, o novo livro de Robin Givhan não pretende ser uma biografia linear, mas sim um estudo crítico sobre um personagem que desafiou os códigos do luxo. Abloh mostrou que é possível pensar na moda como linguagem, como ferramenta de inclusão e como ponte entre mundos. Seu trabalho é uma interseção de arte, comércio e ativismo visual.
Givhan espera que leitores vejam em Abloh um exemplo para quem se sente distante dos bastidores da indústria. Mais do que coleções premiadas, ele ofereceu uma maneira de ver o mundo: com otimismo, criatividade e disposição para “puxar a cortina” e mostrar os bastidores. A mensagem final do livro é clara, não é preciso seguir o caminho tradicional para provocar impacto real.
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A importância de ampliar os acessos à criação
Ao destacar o quanto Abloh inspirava jovens que sequer sabiam onde era a “porta de entrada” da indústria, Givhan convida o mercado da moda a repensar seus próprios mecanismos de inclusão. Bolsas, prêmios e fundações são importantes, mas é o reconhecimento de trajetórias não convencionais que realmente amplia as fronteiras da criatividade.
Abloh não apenas conquistou um lugar no topo: ele redesenhou esse lugar. Para Givhan, sua história é uma lição sobre a importância de elevar pessoas de fora do circuito tradicional e reconhecer o valor da autenticidade como força transformadora.
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