A Maison Margiela anunciou um novo capítulo em sua trajetória: a criação da “Line 2”, uma linha de “produtos intangíveis” que busca estreitar a conexão da marca com a comunidade e com o universo das artes. O lançamento será inaugurado com uma instalação dos artistas coreanos Heemin Chung e Joyul, durante a Frieze em Seul.
Mais do que roupas e acessórios, a iniciativa propõe uma reflexão sobre o que realmente sustenta o fascínio pela Margiela: o conceito e as histórias por trás de cada criação. Para o CEO Gaetano Sciuto, não se trata apenas de consumo, mas de construção de vínculos e pertencimento.

O conceito de “produtos intangíveis”
A “Line 2” surge como extensão do sistema numérico característico da Maison Margiela, que há 37 anos classifica categorias como calçados, fragrâncias e coleções de passarela. Agora, o número 2 passa a representar experiências que não se materializam em um produto físico, mas em colaborações e ativações culturais.
Segundo Sciuto, “intangível” significa oferecer algo além da compra: criar conexão e comunidade. Ao atribuir o mesmo peso de uma coleção a essas iniciativas, a marca amplia sua identidade sem perder a essência conceitual que a diferencia no mercado de luxo.

Moda e artes visuais em diálogo
O movimento da Margiela acompanha uma tendência crescente entre as casas de luxo, que vêm multiplicando colaborações com artistas visuais, músicos e performers. Dior, por exemplo, integrou obras de Chardin em seu desfile de moda masculina, enquanto a Celine patrocinou entradas gratuitas no Centre Pompidou.
No caso da Margiela, a estreia da “Line 2” acontece de forma pontual, com a instalação em Seul, mas sinaliza uma abertura consistente. A decisão mostra que a marca busca novos territórios de expressão, aproximando-se das práticas culturais sem perder seu caráter intelectual.
A herança conceitual da Margiela
Desde sua fundação, a Maison Margiela construiu reputação como uma casa enigmática e vanguardista, marcada pela desconstrução e pelo anonimato. Réplicas de artefatos de design, reciclagem de peças vintage e experimentação com formas são pilares de sua narrativa estética.
Esse DNA se mantém mesmo diante da expansão recente da marca. Sob o grupo OTB, de Renzo Rosso, a Margiela cresceu 4,6% em um mercado de luxo em retração, sustentada principalmente por calçados e ready-to-wear. O desfile de alta-costura assinado por John Galliano, que se tornou viral, ampliou ainda mais sua relevância cultural.
Glenn Martens e a visão contemporânea
A chegada de Glenn Martens à direção criativa trouxe novo fôlego à Margiela. Mesmo que a “Line 2” já estivesse em desenvolvimento, o estilista abraçou a proposta e pretende utilizá-la como plataforma criativa além das passarelas. Para Sciuto, Martens está “100% alinhado” com a visão da casa.
Seu debut em alta-costura, realizado em julho, foi recebido com entusiasmo ao equilibrar a tradição conceitual da marca com imagens de forte impacto visual. Máscaras douradas e prateadas amassadas, apresentadas no desfile, simbolizam a tensão entre anonimato e espetáculo.
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Inclusividade e expansão da mensagem
A “Line 2” também busca reposicionar a comunicação da Margiela. Sciuto destaca que, embora a maison seja conhecida por seu caráter intelectual, o objetivo é reforçar que se trata de uma marca inclusiva, e não apenas de nicho. Ativações culturais permitem ampliar o alcance da mensagem sem descaracterizar a proposta original.
O primeiro desfile de prêt-à-porter de Martens para a Margiela, marcado para a Paris Fashion Week em outubro, será mais um momento-chave para consolidar esse reposicionamento. Entre o palco da moda e os espaços da arte, a marca afirma sua intenção de continuar sendo radicalmente contemporânea.
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