A LVMH estaria em negociações para vender a marca Marc Jacobs, sinalizando uma mudança significativa em sua estratégia no mercado americano de moda de luxo. Fontes apontam que o conglomerado francês está trabalhando com o banco J.P. Morgan para encontrar um comprador disposto a desembolsar cerca de US$ 1 bilhão, enquanto grupos como Authentic Brands, WHP Global e Bluestar Alliance demonstram interesse.
A possível transação marca um novo capítulo na trajetória de uma das marcas mais reconhecidas da moda contemporânea. Criada por Marc Jacobs e impulsionada pela LVMH desde 1997, a grife enfrentou altos e baixos, mas continua relevante tanto nas passarelas quanto nas prateleiras, com destaque para suas fragrâncias e coleções conceituais. A venda reposiciona a marca e também revela a ascensão de novos modelos de negócios, baseados em propriedade intelectual no setor de luxo.

Grupos de licenciamento lideram a disputa
Segundo diversas fontes do setor, três gigantes do licenciamento estão na corrida para adquirir Marc Jacobs: Authentic Brands Group, WHP Global e Bluestar Alliance. Dentre eles, o Authentic, comandado por Jamie Salter, se destaca por já atuar em joint ventures com grupos como a Saks Global para desenvolver marcas de luxo.
WHP e Bluestar também vêm expandindo sua atuação nesse segmento: a primeira adquiriu a marca Vera Wang, enquanto a segunda comprou a Off-White, criada por Virgil Abloh, da própria LVMH no ano anterior. Essas movimentações indicam uma mudança no eixo de controle das marcas de moda, com foco em exploração de marca e parcerias comerciais ao invés de desenvolvimento criativo interno.
LVMH em fase de transição estratégica
A possível venda da Marc Jacobs reflete uma fase de evolução na LVMH. Bernard Arnault, responsável por transformar o grupo em um império do luxo, vem posicionando seus filhos em cargos-chave na empresa, com vistas à sucessão. Ao mesmo tempo, a indústria do luxo enfrenta um esfriamento global e mesmo marcas como Dior e Louis Vuitton sentem os impactos.
Apesar de ser um dos maiores conglomerados do setor, a LVMH nem sempre teve sucesso com marcas americanas. No passado, tentou consolidar a Donna Karan, mas acabou vendendo para a G-III Apparel após dificuldades. A tentativa de vender Marc Jacobs indica que a empresa pode estar priorizando ativos com performance mais consistente ou alinhados à sua nova estratégia.
Um histórico de reinvenções e resiliência
Marc Jacobs brilhou no início dos anos 2000 com a linha Marc by Marc Jacobs e desfiles ousados que marcaram época. Durante anos, o designer esteve à frente da Louis Vuitton e simultaneamente liderava sua própria marca com a ajuda do sócio Robert Duffy. Havia até planos para abrir capital da empresa, o que nunca se concretizou.
Desde a saída de Duffy, há uma década, a marca passou por diferentes estratégias. Hoje, sob a liderança do CEO Eric Marechalle, a operação é dividida entre as criações artísticas de Jacobs e produtos comerciais desenvolvidos por outra equipe. Essa separação tem funcionado: fontes dizem que a marca apresenta bom desempenho no varejo e continua forte no segmento de perfumes.
Mercado americano adota novo modelo de negócio
A movimentação em torno de Marc Jacobs também reflete uma transformação no mercado de moda dos EUA. Os antigos consolidadores, como PVH e VF Corp., cederam espaço para grupos especializados em propriedade intelectual. Em vez de gerir diretamente produção e distribuição, esses grupos focam em marketing e licenciamento.
Ainda pouco testado no setor de luxo, esse modelo propõe adquirir o nome da marca e delegar a fabricação a parceiros estratégicos. Embora eficiente em marcas populares, há dúvidas sobre sua eficácia em grifes de luxo, onde imagem e qualidade precisam estar em perfeito equilíbrio. Marc Jacobs pode se tornar um case importante para avaliar essa abordagem no segmento premium.
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Uma venda que pode redefinir os rumos do luxo
A possível transferência de Marc Jacobs para um grupo como Authentic ou WHP representa não apenas uma oportunidade de reposicionamento para a marca, mas também um experimento do que será o futuro das grifes de luxo. Enquanto a LVMH se reestrutura e busca foco em marcas com maior retorno, os licenciatários testam seus limites no mundo da moda de alto padrão.
Com o legado criativo de Jacobs e uma base de consumidores consolidada, a marca possui potencial de expansão se bem administrada. A negociação pode ser um divisor de águas tanto para o modelo de negócios das grifes de luxo quanto para a próxima fase do próprio Marc Jacobs, criador, ícone e peça-chave no tabuleiro internacional da moda.
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