Uma nova exposição celebra a trajetória singular de André Leon Talley, uma das figuras mais marcantes da moda contemporânea. Intitulada “Style Is Forever”, a mostra está em cartaz no SCAD Museum of Art, em Savannah (15 de agosto a 11 de janeiro), e no SCAD FASH Museum of Fashion + Film, em Atlanta (15 de outubro a 1º de março). A exposição apresenta a história de um homem que, tendo crescido no Velho Sul marcado pelo racismo, conquistou o mundo da moda e o fez por meio das roupas.
Ao revisitar sua vida, fica evidente como Talley construiu uma narrativa própria através da moda. De uma infância simples em Durham, Carolina do Norte, onde foi criado pela avó Bennie Frances Davis, até sua ascensão ao convívio das maiores personalidades da indústria, a sua jornada é contada em tecidos, texturas e silhuetas que marcaram décadas de transformação cultural.

As Origens e Primeiras Referências
Criado pela avó, que trabalhou por 50 anos como faxineira na Duke University, André cresceu em um lar modesto, mas com grande valorização da elegância. Para Bennie, estar bem-vestida era mais que aparência: representava respeito próprio e consideração pelo próximo. Essa filosofia moldou o olhar do jovem Talley para o poder transformador das roupas.
Aluno exemplar, Talley seguiu para a Brown University e, em 1974, iniciou uma trajetória marcante ao lado de Diana Vreeland no The Costume Institute, do Metropolitan Museum. Ainda sem recursos financeiros, ele recorria a brechós de Nova York, onde garimpava peças singulares, como o icônico sobretudo militar que o acompanhava em eventos glamourosos da época.

Nova York, Paris e o Cenário da Moda
Em Nova York, Talley logo chamou a atenção de nomes importantes. Apresentado por Vreeland a Andy Warhol, ganhou seu primeiro trabalho na revista Interview. Pouco tempo depois, em 1976, já era fotografado em looks ousados, combinando clássicos com toques excêntricos que acentuavam sua altura imponente.
Nos anos seguintes, sua carreira deslanchou em Paris, quando assumiu a função de editor de moda da WWD. Lá, tornou-se figura indispensável nas primeiras filas dos desfiles, sempre cercado por ícones como Iman, Cher, Karl Lagerfeld e Diane von Furstenberg. Com presença magnética, André era ao mesmo tempo observador e protagonista das transformações culturais da moda.
O Impacto na Vogue e no Circuito Internacional
No início dos anos 1980, Talley consolidou sua imagem como referência no mundo editorial. Sua voz potente e seu estilo extravagante eram facilmente reconhecidos nos bastidores da Vogue. Trabalhando em Paris e depois nos Estados Unidos, trouxe frescor às páginas da revista e inspirou gerações de leitores e profissionais.
Mais do que jornalista, ele foi um elo entre culturas e continentes. Ao lado de personalidades como Tina Chow, Paloma Picasso e Loulou de la Falaise, André circulava por desfiles e festas que definiram uma era. Sua figura representava não apenas moda, mas também presença, humor e, sobretudo, compromisso com a representatividade de profissionais negros na indústria.
SCAD e a Construção de um Legado
Quando deixou a Vogue, André encontrou no Savannah College of Art and Design um novo propósito. Convidado por Paula Wallace, fundadora da instituição, passou a inspirar estudantes e a fortalecer a coleção de figurinos da universidade, reunindo peças doadas por amigos e designers renomados. O SCAD tornou-se seu refúgio criativo, não muito distante de sua infância na Carolina do Norte.
Entre os destaques da exposição estão criações de Tom Ford, Chanel, Balenciaga e Ralph Lauren, além de peças extravagantes como casacos de couro estampado, sobretudos bordados e caftãs exclusivos. Cada traje revela não apenas estilo, mas também a força de uma personalidade que viveu intensamente a moda como expressão de identidade.
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Últimos Anos e Memória
Nos anos finais de sua vida, Talley adaptou seu guarda-roupa a mudanças físicas, mas sem abrir mão da exuberância. Dos ternos sob medida aos caftãs criados por Dapper Dan e Gucci, sempre manteve a elegância como afirmação de sua essência. Seu amor por bolsas oversized e estolas de pele tornou-se parte inseparável de sua imagem pública.
Acima de tudo, Talley se dedicou a apoiar jovens estudantes, especialmente negros, incentivando-os a perseguirem seus sonhos na moda. Pouco antes de falecer, em 2022, deixou registrado o desejo de ser lembrado como alguém que transformou vidas e abriu caminhos para o futuro da indústria.
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