O museu Victoria & Albert (V&A), em Londres, acaba de anunciar sua próxima grande exposição: uma retrospectiva dedicada a Maria Antonieta, uma das figuras mais controversas da história europeia. A mostra, intitulada Marie Antoinette Style, será inaugurada em 20 de setembro de 2025 e propõe uma releitura crítica da rainha francesa, combinando pesquisa histórica com peças de alta-costura inspiradas em seu legado estético.
Segundo a curadora Sarah Grant, o objetivo é não apenas explorar a relação da monarca com a moda, mas também desmistificar os mitos que a cercam, como a ideia de que ela teria arruinado os cofres da França ou ignorado a fome da população. A exposição visa revelar uma mulher complexa e influente, longe da caricatura da rainha fútil e alienada.

Estereótipos e manipulações históricas perpetuadas por séculos
A historiadora Madeleine Pelling explica que a imagem que temos hoje de Maria Antonieta é resultado de séculos de reinvenção. “O cinema, a internet e a cultura pop reforçaram uma visão glamourosa, mas também superficial e insensível da rainha, alguém desconectada da realidade e cega à pobreza à sua volta.”
Já em vida, Maria Antonieta foi alvo de projeções políticas e sociais. Assim que chegou à França, vinda da Áustria, foi literalmente despojada de suas roupas nativas e reconstruída como símbolo da monarquia francesa. Sua imagem passou a ser moldada para atender às expectativas alheias, um processo visual e simbólico que a acompanharia até sua morte.

O papel da rainha como alvo da Revolução Francesa
Durante a Revolução Francesa, Maria Antonieta se tornou o principal símbolo do que havia de errado com a monarquia. Acusada de adultério, espionagem e até de crimes absurdos como bestialidade, foi atacada em panfletos anônimos que circularam pelas ruas de Paris. Segundo o historiador Gareth Russell, esses ataques visavam fragilizar o regime ao transformar a rainha em figura de escárnio moral.
Após sua execução, em 1793, a imagem da monarca seguiu sendo manipulada para justificar os excessos da Revolução. “Retratá-la como quem dizia ‘que comam brioches’ servia para desumanizá-la”, afirma Russell. No século XX, Maria Antonieta passou a ser usada como símbolo dos perigos do consumismo desenfreado, um arquétipo que continua sendo explorado até hoje.

Feminismo, cultura pop e a revalorização de sua figura
A imagem de Maria Antonieta voltou a ser debatida recentemente, quando uma marionete sem cabeça da rainha foi usada como piada na cerimônia de abertura dos Jogos Olímpicos de Paris. O gesto gerou críticas não só de conservadores, mas também de feministas, que apontaram o uso histórico da pornografia como ferramenta para destruir sua reputação pública.
Desde os anos 1980, parte da crítica feminista tem reivindicado uma leitura mais justa da rainha, analisando como sua imagem foi manipulada para atender a interesses políticos e patriarcais. O V&A se insere nesse debate ao promover uma visão mais matizada, que reconhece suas falhas, mas também sua humanidade e suas contribuições como mulher em um ambiente hostil.
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Moda, arte e identidade: o legado estético de Maria Antonieta
A exposição também vai destacar o papel central da rainha como trendsetter no século XVIII. “Ela não era uma cabeça de vento. Sabemos que era leitora assídua de romances, peças, filosofia e história natural”, comenta Pelling. Maria Antonieta também tinha gosto refinado por música, mobiliário, decoração e, claro, moda.
Ela não apenas acompanhava tendências: ela as criava. Encomendada por ela, uma série de criações artesanais ajudou a redefinir o vestir da corte e influenciou a estética europeia da época. Como patrona das artes, apoiou artistas e artesãos, deixando um legado que ainda ressoa no design contemporâneo, e que agora ganha um novo olhar sob os holofotes do V&A.
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