A exposição Costume Art marca um momento histórico no Metropolitan Museum of Art: é a primeira mostra apresentada nas novas Condé M. Nast Galleries, um espaço de quase 12 mil pés quadrados ao lado do icônico Great Hall. Pela primeira vez, o acervo de moda do Costume Institute sai “do porão” para ocupar uma posição central no museu, reforçando a ideia de que a moda não é coadjuvante, mas parte fundamental da história da arte.
Sob a curadoria de Andrew Bolton, a exposição foi pensada como uma declaração clara: a moda merece ser vista e discutida no mesmo nível que pintura, escultura e outras expressões artísticas. Para isso, Costume Art coloca lado a lado obras de diferentes períodos, que abrangem cerca de 5 mil anos de arte do acervo do The Met, e peças históricas e contemporâneas do Costume Institute, sempre tendo o corpo vestido como ponto de conexão.



O corpo vestido no centro da narrativa do The Met
A ideia de partida de Andrew Bolton é simples e poderosa: em praticamente todas as galerias do The Met, o corpo aparece vestido, representado ou sugerido de alguma forma. Mesmo quando está nu, ele nunca está “vazio”, mas carregado de símbolos, valores e convenções culturais. Costume Art torna explícita essa presença constante, usando a moda como chave de leitura para toda a coleção do museu.
Para isso, a exposição cria diálogos entre pinturas, esculturas, gravuras, fotografias e roupas de alta-costura. Obras clássicas dividem o espaço com criações contemporâneas, evidenciando como a forma de cobrir, moldar ou expor o corpo está no centro das discussões sobre identidade, poder, gênero, ideal de beleza e transformação social ao longo da história.



Corpos, temas e hierarquias entre moda e arte
A mostra é organizada em torno de diferentes “tipos de corpo”, divididos em categorias que ajudam a questionar hierarquias tradicionais entre arte e moda. Estão lá o corpo clássico e o corpo nu, tão presentes na história da arte ocidental; o corpo anatômico, que revela músculos, ossos e estruturas internas; além de corpos muitas vezes marginalizados nas representações tradicionais, como o corpo grávido e o corpo envelhecido.
Cada núcleo aproxima obras “canônicas” de peças de vestuário que lidam com o mesmo tema de forma crítica ou poética. Ao aproximar imagens de livros anatômicos históricos de criações como o conjunto “Corset Anatomia”, da brasileira Renata Buzzo, ou fotografias de corpos grávidos de vestidos que literalizam a gestação, a exposição reforça a ideia de que moda e arte respondem às mesmas inquietações. A proposta não é criar uma nova hierarquia, mas desmontar a antiga, colocando roupas e obras de arte em pé de igualdade.



Quando a moda “tem vantagem” sobre a arte
Bolton também provoca uma reflexão sobre por que a moda ainda enfrenta resistência para ser plenamente reconhecida como arte. Segundo ele, essa resistência está ligada ao fato de o vestuário estar diretamente associado ao corpo, ao uso e à vida cotidiana. Por muito tempo, a moda só foi aceita como “arte” quando afastada da experiência corporal, tratada como imagem pura ou objeto de contemplação distante.
Em Costume Art, o curador faz o movimento contrário: recoloca o corpo no centro e assume que a força da moda está justamente na experiência vivida. Roupas são pensadas para serem vestidas, para se moverem com quem as usa, para existir no atrito entre o ideal e o real. Ao reconhecer essa dimensão, a mostra propõe que a moda tem uma vantagem particular em relação a outras formas de arte: ela está mais próxima da vida, dos afetos, das tensões e das contradições de quem a veste.



Cenografia, manequins espelhados e a experiência do visitante
A montagem da exposição foi desenhada pelo escritório Peterson Rich Office, de Nova York, com o objetivo de “privilegiar” a moda na experiência de visita. Nas novas galerias Condé M. Nast, os manequins com as roupas são posicionados em pedestais altos, com as obras de arte integradas a essas estruturas. Ao entrar, o olhar é naturalmente atraído primeiro pelos trajes, para depois percorrer o diálogo com as demais peças.
Um dos gestos mais impactantes é o uso de cabeças espelhadas nos manequins, criadas pela artista Samar Hejazi. Em vez de rostos neutros, o visitante vê o próprio reflexo. Essa solução aproxima o público das roupas e das representações corporais exibidas, convidando à empatia e à auto-observação: ao olhar para o manequim, o visitante é lembrado de que também habita um corpo e que sua experiência está implicada nas narrativas que vê. Em alguns momentos, corpos reais também são moldados e projetados para ocupar o lugar dos manequins, ampliando os padrões de beleza e representação.
Veja também: Primeira loja da On no Brasil será inaugurada no Shopping JK Iguatemi.



Costume Art, Met Gala e o futuro do Costume Institute
Costume Art também marca uma nova fase institucional para o Costume Institute. A exposição é a primeira a ocupar de forma permanente um espaço nobre do museu, reforçando o peso da moda dentro da programação do The Met. O título, direto e sem subtítulo, foi escolhido de forma intencional: ao abandonar explicações complementares, a mostra se apresenta como um posicionamento claro de que a roupa, o vestuário, é arte.
Viabilizada com apoio de Jeff e Lauren Bezos e patrocínios de Saint Laurent e Condé Nast, a exposição abre ao público em 10 de maio de 2026 e segue em cartaz até 10 de janeiro de 2027. Sua inauguração acontece na sequência do Met Gala de 2026, evento beneficente que segue sendo a principal fonte de financiamento do Costume Institute. Com Costume Art, a instituição dá um passo decisivo rumo a um futuro em que moda, corpos e imagens sejam entendidos como partes igualmente legítimas da história da arte.
Ah, se você curte conteúdo sobre moda e lifestyle, acesse o nosso canal do Youtube com a Fabíola Kassin.





