O Projeto Ponto Firme é uma iniciativa transformadora, que vai além do ensino técnico de crochê e tricô.
Criado pelo designer Gustavo Silvestre, o projeto nasceu da vontade de oferecer uma alternativa de reintegração social para detentos do sistema prisional, proporcionando a eles uma nova perspectiva de vida por meio do trabalho manual e da arte. O crochê, que antes era visto por muitos como uma técnica simples e doméstica, ganhou um novo status ao ser introduzido como uma forma de expressão criativa e artística dentro do cárcere.
O projeto teve início em 2015, no Presídio Adriano Marrey, em Guarulhos (SP), e já formou dezenas de detentos, que encontraram na prática do crochê não apenas uma forma de ocupação, mas também uma maneira de repensar suas trajetórias de vida. Para muitos, o ato de criar algo com as próprias mãos traz um senso de propósito e autoestima, além de abrir portas para possíveis oportunidades profissionais ao sair da prisão. O Ponto Firme oferece a esses internos a chance de adquirir uma habilidade que pode ser convertida em fonte de renda no futuro.
Além do impacto social, o projeto também trouxe uma contribuição significativa para a moda brasileira. As peças criadas pelos detentos do projeto foram exibidas em grandes plataformas da moda, como o São Paulo Fashion Week, um dos maiores eventos de moda da América Latina. Nos desfiles, as criações autorais – muitas vezes inspiradas nas experiências pessoais dos detentos – ganham destaque, e o público é levado a refletir sobre o poder da moda como uma ferramenta de mudança social. As peças são compostas por técnicas elaboradas de crochê, com designs que misturam elementos de alta costura, artesanato e arte contemporânea.
O projeto também levanta discussões importantes sobre a função do sistema prisional. Ao invés de ser um lugar de punição e estagnação, o sistema poderia ser visto como uma oportunidade para ressocializar e capacitar os detentos. O Ponto Firme exemplifica como é possível usar a criatividade e o trabalho manual para dar um novo sentido à vida de quem, por algum motivo, perdeu seu caminho. A prática do crochê, para muitos dos participantes, torna-se um meio de cura, uma forma de extravasar emoções e encontrar equilíbrio emocional dentro de um ambiente muitas vezes difícil.
Um aspecto interessante do projeto é a maneira como ele envolve a comunidade externa e interna. Não se trata apenas de uma atividade isolada dentro da prisão, mas de uma ponte entre os detentos e a sociedade, com a moda atuando como um elo de conexão. Ao levar as criações dos internos para desfiles e eventos, o projeto também rompe estigmas sobre o que é produzido dentro do sistema prisional e sobre os próprios detentos, mostrando que todos são capazes de transformar suas realidades e contribuir de maneira positiva para a sociedade.
Outro ponto de destaque é que o projeto desafia a forma como muitas vezes vemos o trabalho artesanal. O crochê, por exemplo, ganha aqui uma nova leitura, sendo reinterpretado como arte de vanguarda. As criações do Ponto Firme se destacam não apenas pela sua técnica e beleza, mas também pelo significado que carregam, sendo verdadeiros manifestos de transformação e resiliência.
Projeto ponto firme e kevin germanier
Gustavo Silvestre e Kevin Germanier se uniram pela quarta vez para criar uma coleção inédita para a Paris Fashion Week. Neste novo projeto, o estilista brasileiro explorou novas facetas do crochê, incorporando a técnica artesanal ao universo contemporâneo, sempre com foco na moda sustentável e no reaproveitamento de materiais. A coleção, inspirada no zodíaco, apresentou 10 looks desenvolvidos e confeccionados no Brasil por Gustavo e sua equipe de artesãs, que destacam drapeados, sobreposições e volumes inovadores, o crochê utilizado por Gustavo é feito com linhas da Círculo, que apoiou o estilista nesta edição da PFW.
Esta é a maior participação de Gustavo ao longo da parceria com Kevin, não apenas em termos de número de looks, mas também pela complexidade e originalidade das produções. As criações de Gustavo são baseadas em tecidos de crochê que ele desenvolveu ao longo de anos de pesquisa. As tramas são cuidadosamente tecidas e entrelaçadas com paetês exclusivos, resultando em peças únicas e delicadas. O projeto conta com a participação de 16 pessoas, que dedicaram mais de 800 horas de trabalho. A escolha do fio é crucial para garantir a estrutura, caimento e movimento do tecido de crochê, além de proporcionar o brilho sutil desejado. “Utilizamos 100% o fio Cordonê da Círculo, pois é luxuoso e resistente, ideal para esse tipo de trabalho detalhado”, comenta Gustavo.
Para este desfile, algumas características já presentes em colaborações anteriores, como cores vibrantes e looks extravagantes, continuarão em evidência, mas haverá também peças mais leves e com transparências. O crochê e o upcycling novamente terão destaque, utilizando materiais reaproveitados que conferem brilho aos paetês na passarela de uma das semanas de moda mais importantes do mundo. “Alguns looks pesam mais de 15 quilos, enquanto outros são muito leves e delicados”, revela Gustavo.
O estilista brasileiro também traz à tona uma agenda social, um dos pilares do seu trabalho, aproveitando a visibilidade da PFW para destacar essa causa. “Por ser a semana de moda mais tradicional e influente do mundo, as peças que apresentamos em Paris têm repercussão global. É fundamental estarmos lá, pois somos inovadores em várias dimensões do crochê. Fomos a primeira iniciativa social a apresentar uma coleção desenvolvida 100% por detentos no calendário oficial de um evento de moda. Hoje, o projeto cresceu e abrange outros públicos, sempre com a missão de desenvolver potencialidades, gerar renda e reduzir desigualdades. O mundo precisa entender a importância de uma moda socialmente e ambientalmente responsável, e por isso estamos em Paris”, enfatiza Gustavo.
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