A Gucci sempre foi um dos pilares do setor de luxo, ao lado de marcas como Louis Vuitton, Dior, Hermès, Chanel e Cartier. No entanto, sob o comando do Kering, o desempenho da grife caiu significativamente, ao contrário de suas concorrentes.
Entre 2022 e 2024, a receita da Gucci caiu quase 30%, passando de US$ 10,9 bilhões para US$ 7,9 bilhões. Um dos motivos apontados para essa queda foi a desconexão da marca com sua herança e identidade histórica.
Diante desse cenário, Alexandra Gucci Zarini, herdeira de terceira geração da família Gucci, decidiu trilhar seu próprio caminho. Embora não possa mudar os rumos da marca fundada por seu bisavô, Guccio Gucci, ela busca resgatar os valores do luxo tradicional e reinventá-los com sua nova marca de moda, a AGCF, fundada em parceria com seu marido e sócio, Josef Zarini.
O Significado de AGCF
O nome AGCF carrega um propósito claro:
- AG (Alexandra Gucci) – Uma homenagem ao legado da família, preservando a excelência artesanal e trazendo inovação para o mercado de luxo.
- CF (Creative Framework) – Um compromisso com a criatividade e a responsabilidade, garantindo que cada peça tenha um significado além da estética.
“AGCF é mais do que apenas uma casa de moda”, afirma Alexandra. “É um conceito de luxo com propósito. Criamos uma estrutura criativa para gerar impacto e mudanças significativas.”
Para reforçar esse compromisso, a AGCF foi estruturada como uma Public Benefit Corporation, destinando 20% de seus lucros para causas sociais focadas em mulheres jovens, crianças e meio ambiente. Alexandra já havia demonstrado essa preocupação ao fundar a Alexandra Gucci Children’s Foundation, uma organização sem fins lucrativos dedicada ao bem-estar infantil.
Transformando a Indústria do Luxo
Enquanto seu bisavô e avô ajudaram a moldar o setor de luxo no século XX, Alexandra busca criar um novo modelo de negócios para o século XXI. Sua proposta vai além de produtos sofisticados e exclusivos voltados apenas ao lucro corporativo. A AGCF propõe um modelo de luxo responsável e sustentável, alinhado aos princípios do capitalismo humanista.
“Não estamos apenas criando uma marca, estamos promovendo um movimento para tornar a indústria do luxo mais ética e responsável”, afirma Alexandra.
O setor de luxo tem enfrentado desafios relacionados à ética, desde a polêmica campanha publicitária da Balenciaga em 2022 até recentes denúncias de exploração trabalhista na cadeia de produção de grandes marcas.
“O sistema foi corrompido por décadas”, diz Alexandra. “Os grandes conglomerados de luxo estão obcecados por margens de lucro cada vez maiores, incentivando práticas antiéticas. Me recuso a fazer parte disso.”
Seu marido e sócio, Josef Zarini, que possui um histórico no setor financeiro, reforça essa visão:
“A moda tem o mesmo impacto cultural que a música e a arte. Podemos usar esse poder para impulsionar mudanças reais.”
O que esperar da AGCF?
A AGCF foi lançada em abril de 2024 com uma coleção principal focada em bolsas e acessórios. Entre os destaques:
- Bolsas com o símbolo Unità – Representando unidade, um dos valores fundamentais da marca.
- Preços entre US$ 1,4 mil e US$ 2,9 mil, consolidando a posição da marca no setor de luxo.
- Linha de joias demi-fine, com peças em ouro vermeil 18K sobre prata esterlina, além de detalhes em diamantes cultivados em laboratório, quartzo fumê e pérolas Akoya japonesas.
- Faixa de preço entre US$ 200 e US$ 1,5 mil, tornando as joias uma opção mais acessível dentro do segmento de luxo.
Inicialmente, os produtos da AGCF foram disponibilizados online e na boutique AGCF em Rodeo Drive, Beverly Hills. A escolha do local não foi por acaso: Alexandra quis homenagear Aldo Gucci, que foi pioneiro ao abrir uma loja de luxo na famosa rua em 1968.
A marca também foi apresentada na Paris Fashion Week, ampliando sua presença no mercado internacional. Além disso, a AGCF iniciou negociações com varejistas globais e garantiu espaço em cinco lojas da rede japonesa Takashimaya.
“Nosso lançamento internacional é um marco importante”, disse Alexandra. “Os consumidores japoneses valorizam qualidade, artesanato e ética, que são os pilares da AGCF.”
Produção Sustentável e Ética
Diferente da Gucci tradicional, Alexandra optou por não produzir as bolsas da AGCF na Itália, citando problemas sistêmicos de exploração trabalhista na indústria de luxo do país.
“Não consigo, com a consciência limpa, fabricar bolsas na Itália, país que meu avô ajudou a tornar um símbolo da moda de luxo”, afirma. “Há problemas estruturais graves na indústria de manufatura italiana, e não quero contribuir com isso.”
Em vez disso, ela escolheu oficinas familiares na Espanha, garantindo um ambiente de trabalho justo e respeitoso para os artesãos.
“Os ateliês são administrados por famílias que usam as mesmas técnicas e ferramentas há gerações. Todos trabalham em condições dignas e são valorizados pelo seu talento.”
Além disso, a AGCF adota práticas sustentáveis, utilizando couro proveniente da indústria da carne, minimizando desperdícios e garantindo que não haja crueldade animal no processo de produção.
Veja também: Milan Fashion Week: Sem Sabato de Sarno, Gucci abre os desfiles de Fall/25.
AGCF e o Futuro do Luxo Consciente
A criação da AGCF representa uma mudança significativa na indústria de luxo, trazendo um modelo de negócios que une exclusividade, ética e impacto social.
Enquanto muitas marcas tradicionais lutam para se adaptar às novas demandas do consumidor, Alexandra aposta na transparência, sustentabilidade e compromisso social como pilares do seu sucesso.
Seu objetivo não é apenas vender produtos de luxo, mas transformar a indústria e inspirar outras marcas a seguirem o mesmo caminho.
“Iniciei a AGCF porque percebi que há muitas sombras por trás do luxo e de toda a sua aura de prestígio”, conclui Alexandra. “Minha missão é trazer luz para essas questões e usar a moda como um agente de mudança.”
Com sua abordagem inovadora e um forte compromisso com a ética, a AGCF se posiciona como um exemplo de luxo consciente e responsável para o futuro.
Se você curte conteúdo sobre moda e lifestyle, acesse o nosso canal do Youtube com a Fabíola Kassin.
