A Jean Paul Gaultier trouxe de volta um gesto histórico que une moda, poesia e memória cultural: o projeto Dial-A-Poema, criado originalmente em 1968 pelo artista nova-iorquino John Giorno. A ideia, revolucionária para sua época, transformava uma ligação telefônica em um encontro com a arte falada. Em vez de propagandas, quem ligava para o número disponível era surpreendido por poemas declamados, inaugurando um formato pioneiro de performance sonora.
Agora, décadas depois, a maison francesa revisita esse projeto para provocar uma pausa no ritmo acelerado das redes sociais e convidar o público a vivenciar a poesia de um jeito íntimo e inesperado. É um convite a pegar o telefone, ouvir palavras ditas com intenção e refletir sobre como a oralidade continua a transformar nossa percepção de arte e de tempo. Mais do que nostalgia, trata-se de um gesto poético que marca a antecipação da estreia de Duran Lantink como novo diretor criativo da Jean Paul Gaultier.

O Legado de John Giorno
O “Dial-A-Poema” surgiu em um contexto cultural efervescente, no fim dos anos 1960 em Nova York. Giorno, poeta experimental, via o telefone como uma nova mídia, capaz de romper barreiras entre público e arte. O impacto foi imediato: em um mundo acostumado a mensagens comerciais, ouvir um poema inesperado ao telefone transformava a rotina em experiência estética.
Esse gesto simples revelou a força da linguagem oral como meio artístico, influenciando gerações de criadores e consolidando Giorno como um dos grandes nomes da poesia performática. Hoje, revisitar esse legado é também atualizar a relação entre tecnologia, arte e audiência.

Dial-A-Poema no Brasil
No Brasil, o projeto ganhou uma versão própria, expandindo a proposta de Giorno para os dias atuais. Dial-A-Poem Brasil reúne 54 poetas, artistas e pesquisadores que emprestam suas vozes para leituras guiadas pelo tema do erotismo. A curadoria, assinada por Marcela Vieira, busca explorar múltiplas visões sobre corpo, desejo e sexualidade.
Essa seleção valoriza não apenas a pluralidade de estilos e gerações, mas também inclui línguas indígenas como ticuna, guajajara e baniwa, reforçando a potência da diversidade cultural na literatura oral. O projeto pode ser acessado gratuitamente por telefone em dois números: +55 11 5039 1344 (para maiores de 18 anos) e, com apoio da Vivo, o número nacional e gratuito 0800-01-76362 ou 0800-01-POEMA, aberto a todas as idades.

Moda, Poesia e Cultura
O resgate do “Dial-A-Poema” pela Jean Paul Gaultier não é apenas uma homenagem, mas uma declaração de intenções. Em um momento em que a maison se prepara para entrar em uma nova fase sob a direção de Duran Lantink, a ação funciona como metáfora: abrir espaço para vozes diversas, integrar memória e inovação e reafirmar que moda também é linguagem, capaz de dialogar com múltiplas formas de expressão cultural.
Assim como a moda, a poesia pode ser provocadora, sensível e radical. Ao unir essas duas esferas, a iniciativa cria uma experiência híbrida, em que o público é convidado a refletir sobre como a estética influencia não apenas o que vemos, mas também o que ouvimos e sentimos.
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Um gesto poético para a Maison
A escolha de retomar o projeto de Giorno no mesmo momento em que se anuncia a estreia de Duran Lantink como diretor criativo sugere um primeiro gesto poético para a nova era da Jean Paul Gaultier. Reconhecido por seu olhar experimental e por desafiar convenções, Lantink encontra na poesia falada uma forma de introduzir sua visão criativa: um equilíbrio entre respeito ao legado e abertura para novos horizontes.
O “Dial-A-Poema” renasce, portanto, não apenas como uma ação cultural, mas como um manifesto que sinaliza o futuro da maison: ousado, colaborativo e atento à potência de linguagens que ultrapassam o campo da moda.
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